Crónica de Nuno Cardoso: viajar sozinho, sim ou não?

Viena de Áustria. (Fotografia: Pexels/DR)
Há óbvias vantagens e desvantagens em viajar a solo ou acompanhado. Acredito - e pratico, há vários anos - num equilíbrio entre os dois cenários.

Numa rubrica mensal na revista Volta ao Mundo, onde converso com chefs nacionais sobre as suas experiências em viagens lá fora, as respostas raramente mudam, para minha surpresa inicial. “Viajar sozinho: sim ou não?”, pergunto-lhes. Dizem-me: “Raramente viajo sozinho”, “É muito mais interessante a partilha das experiências”, “O que é bom tem que ser vivido em companhia” e outras frases sempre nesta linha de pensamento.

Quando Maurício Vale, chef dos restaurantes lisboetas Asian Street Food e Asian Lab, me contou que gosta de fazer viagens acompanhado, mas que volta e meia precisa do seu espaço, tirou-me as palavras da boca. “Gosto do meu silêncio, de me deixar perder em viagem”, explicava na altura.

Como em tudo na vida, o equilíbrio aqui é a palavra-chave. É bom conhecer os quatro cantos do mundo com boa companhia – família, parceiros, amigos escolhidos a dedo -, obviamente. E algumas das minhas melhores memórias em dias de lazer além-fronteiras aconteceram rodeado de boa gente. Mas sinto a necessidade de alternar estas viagens com outras a solo. Ambos os cenários têm prós e contras, claro. A viajar-se sozinho perde-se partilha, intimidade e memórias comuns. Mas ganha-se também: maior liberdade e gestão de tempo, menos distrações. E a escolha de se fazer o que se quer, quando se quer, onde se quer, durante o tempo que se quer.

A escolha do destino é fulcral aqui – há territórios que, à partida, resultam melhor com companhia do que outros. Mas é importante desmistificar a teoria de que as viagens a solo possam estar associadas a uma ideia de isolamento ou de vida solteira. São, isso sim, uma boa lição de autoconhecimento. Facilmente descobrimos coisas novas sobre nós mesmos numa viagem a solo.

A pandemia parece ter vindo dar o empurrão necessário para que alguns mergulhem nesta experiência. Um estudo pós-covid da eDreams, destinado a perceber a mudança na forma de viajar dos portugueses, revelava em 2020 que ir de férias sozinho estava em tendência crescente, num aumento de 6% face às intenções reveladas antes da pandemia. Nesse ano, os destinos preferidos dos viajantes solitários portugueses foram Paris, Luxemburgo, Funchal, Zurique e Londres. A título de curiosidade, eu acrescentaria Viena de Áustria e Salzburgo, a dupla austríaca em que me estreei em viagens a solo.




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