Crónica de Luísa Marinho: Árvores extraordinárias

Azinheira de Alportel. (Fotografia: DR)
No dia em que sai para as bancas esta edição da “Evasões” fica-se a saber qual a Árvore do Ano 2023 em Portugal. Este concurso, organizado pela UNAC - União da Floresta Mediterrânica, realiza-se desde 2018 e integra um concurso maior, o da Árvore Europeia do Ano, que começou em 2011.

Foi com um súbito entusiasmo que este ano soube da votação e logo fui pesquisar sobre as dez finalistas. Sem surpresa, deparei-me com várias oliveiras a concurso. As quatro surpreendem pela antiguidade, sendo a mais nova a Oliveira Milenar (em Lagoa, Silves), com 2000 anos de vida. Do Algarve é também a Oliveira Real (Pedras del Rei, Tavira), com 2226 anos, ambas plantadas no tempo em que o Império Romano dominava esta parte do mundo. Mais antiga é a Oliveira de Casais de São Brás (Santarém), com 3000 anos. Também no Ribatejo está a Oliveira dos Faraós (Mouriscas, Abrantes). Esta é a árvore mais antiga de Portugal, com 3358 anos, e ainda dá fruto. Já esteve a concurso em anos anteriores, com o nome pela qual é conhecida popularmente – Oliveira do Monchão – mas nunca ganhou. Conta-se que os pescadores do Tejo ali se reuniam antes de irem para os pesqueiros. Quem chegasse em primeiro lugar escolhia a Pesqueira do Mouchão, a melhor; daí a sua designação. Este ano, a árvore foi rebatizada como Oliveira dos Faraós. Os seus primeiros anos de vida são contemporâneos do final da Idade do Bronze. Por essa altura, no Egito, começava a época dos faraós mais famosos da história, como Tutankhamon ou Ramsés II.

Mas há mais vedetas além das oliveiras. A Azinheira de Alportel (Faro), com 250 anos, tem grande ligação à comunidade, sendo as suas bolotas apreciadas há gerações na época natalícia. O Castanheiro Gigante de Guilhafonso (Pêra do Moço, Guarda), com 500 anos, é imponente. O seu porte deve-se à junção de dois castanheiros, que por estarem muito perto se fundiram. Há 20 anos foi atingido por um raio e sobreviveu.

A árvore mais nova a concurso, com 132 anos, é o Eucalipto de Contige (Sátão, Viseu). Apesar de “nova” é a maior árvore classificada em Portugal, com 43 metros de altura e 11 metros de perímetro de tronco. Outra árvore não autóctone é o Metrosídero ou Árvore-de-fogo (Mafra). Foi plantada há 200 anos a mando de D. Fernando II e veio de expedições marítimas do Pacífico.

Ao chegar ao final desta crónica, decido em que árvores votar (pode votar-se em duas), esperando que alguma delas suba ao pódio no concurso europeu. Mas se não ganhar, não importa. Estas árvores extraordinárias têm um valor que ultrapassa o de qualquer distinção. Continuarão por cá muitos anos após alguém se lembrar que este concurso sequer existiu.




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