Crónica de André Rosa: O que é o luxo, afinal?

(Fotografia: DR)
Numa lógica de reconexão entre as pessoas e a natureza, muitos hotéis têm-se instalado em zonas rurais. Em muitos deles percebe-se que o luxo pode estar na simplicidade.

Procurar a palavra “luxo” no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa mostra os seguintes resultados: “1. Modo de vida que inclui um conjunto de coisas ou atividades supérfluas e aparatosas. 2. Grande quantidade. 3. Bem ou atividade que não é considerado necessário, mas gera conforto ou prazer”.

São definições que remetem para uma noção materialista do luxo, de posse de bens materiais ou acesso a experiências. A hotelaria de luxo, à qual a “Evasões” dedica amiúde muitas das suas páginas, aglutina-as bem, tratando-se de um serviço de hospitalidade especializado em proporcionar o bem-estar pleno aos clientes.

Diferentes pessoas defenderão diferentes conceitos de luxo. Há semanas, numa reportagem num hotel de cinco estrelas em Lisboa, um diretor-geral frisou a ideia de que o luxo não é pôr folha de ouro nas paredes dos quartos nem outros elementos ostentatórios. É, defendeu ele, prestar um serviço personalizado, atento às necessidades, anseios e personalidade do cliente.

O luxo pode viver em detalhes como guardanapos de linho bordados à mão, toalhas e chinelos de quarto com a mais alta gramagem de algodão e camas feitas com lençóis de 600 linhas de algodão egípcio. Tudo bens materiais, é certo, mas que em linha com o tal padrão elevado de serviço ajudam a dar forma ao luxo de um hotel.

Numa lógica de reconexão entre as pessoas e a natureza, muitos hotéis têm-se instalado em zonas rurais, convidando os hóspedes a abrandar o ritmo que trazem das cidades. Em muitos deles percebe-se que, mais uma vez, o luxo pode estar na envolvente – o luxo da simplicidade da comunhão com a natureza.

O luxo de poder respirar o ar puro de um pinhal, o perfume da maresia num passadiço sobre as dunas, o cheiro a lenha queimada. Tudo experiências sensoriais que a vida urbana tolda, envolvendo os residentes em ruído, poluição, causadores de stress e de doenças potencialmente graves.

Fora do campo da hotelaria merecem reflexão, à luz destes tempos conturbados, as ameaças a direitos básicos como o da privacidade. Num período de hiperdigitalização da sociedade, qualquer ataque informático é capaz de devassar a intimidade de qualquer pessoa, bloquear por completo uma empresa ou até uma cadeia de abastecimento crítico de um país.

Algumas narrativas de ficção científica levam-nos a acreditar que no futuro um dos bens mais preciosos será a privacidade, dentro e fora de casa, quase tanto ou mais que petróleo, diamantes ou outras matérias-primas de rara subtileza. O que é, afinal, o luxo nas múltiplas vertentes da nossa vida?




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