Crónica de André Rosa: “Calor siberiano”

(Fotografia: Raimond Klavins/Unsplash)
A sensação do estado do tempo devia ser objeto de um estudo sociológico mais profundo. Porque cada pessoa tem a a sua ideia de como a estação do ano deve comportar-se.

Duas mãos não chegam para contar 0 número de assuntos que suscitam opiniões discordantes entre os portugueses, mas um deles devia ser objeto de um estudo sociológico mais aprofundado: a sensação de bem-estar com o estado do tempo. Este assunto de conversa de circunstância, ou “conversa de elevador” para quebrar silêncios constrangedores, revela mais sobre o nosso povo do que talvez possamos imaginar.

A insatisfação coletiva e constante com o estado do tempo é um denominador comum. Além disso, prova que as condições meteorológicas nunca conseguirão agradar a gregos e a troianos, porque cada pessoa tem o seu termostato, as suas prefrências e uma visão de como as estações do ano devem ou não comportar-se,

Isto conduz-nos à conclusão de queoque é bom para uns pode não ser para outros. Uma previsão de trinta e quatro graus pode agradar à quem está de férias à beira da praia ou da piscina, e não tanto a quem está na cidade, parado no trânsito entre o trabalho e casa. Assim como quemtem aquecimento central em casa provavelmente nã se sentirá tão incomodado com os alertas meteorológicos que preveem frio de bater o dente, desconfortável para quem tem casas frias ou de se deslocar na rua ou de transportes públicos.

Aceitar isto é assumir uma posição de razoabilidade básica salutar. Parece um assunto de menor importância, é certo, mas que se acuse quem nunca discutiu com o colega do lado num escritório, por ele querer ter a ventoinha ou aquecedor ligado. A este nosso traço de personalidade tão peculiar (ou talvez comum a tantos outros povos) Juntam-se as reações perante aquilo que é veiculado pelos media acerca das condições e previsões meteorológicas. A verdade é que algumas destas noticias transmitem a informação num certo tom alarmista, muitas vezes desnecessário.

Costumo dizer que, antigamente, dias de muita chuva e vento forte chamavam-se “inverno”. Mas desde 2017 que os fenómenos de “tempestade” – que para qualquer pessoa parecem manifestações perfeitamente expectáveis para a altura do ano em que ocorrem – se anunciam às populações com nomes depessoas, fruto de umacordo entre o Instituto Português do Mar e da Atmosfera e dois congéneres europeus. O objetivo,segundo julgo entender, é fazer com que as pessoas levem mais a sério os avisos e alertas meteorológicos, uma vez que o evento pode representar perigo para integridade das populações e dos seus bens. Mas ninguém estranha que em dezembro haja semanas de rio de bater o dente, nem 41 graus em Santarém em agosto.




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