Crónica de André Rosa: A primavera que merecemos

Os jacarandás floridos dão cor às cidades. (Fotografia: DR)
O lilás e o rosa dos jacarandás a colorir as ruas da cidade é o primeiro sinal do despontar da primavera e um chamamento para lugares exóticos.

Jacarandá. Se a ouvirmos bem, esta palavra evoca imagens auditivas que remetem para o Oriente, ou para cenários do domínio do sonho. Pode dizer-se, até, que tem uma sonoridade colorida e aberta pelas vogais, tal como a primavera. Sempre que estas árvores, muito comuns nos centros urbanos do Sul do país, começam a dar flor, a minha mãe fala-me delas com um sorriso e convida-me a admirá-las num passeio pela cidade. A verdade é que se revestem de qualquer coisa de mágico, seja pelas copas malvas e frondosas, cuja floração acontece entre os meses de abril e junho, antes de nascerem as folhas; seja pelas flores de cor roxa ou lilás, que remetem para um cenário exótico, onde tudo tem mais cor e perfume.

O jacarandá foi introduzido em Lisboa no século XIX e floresce um pouco por toda a cidade na altura da primavera, antes da maioria das outras espécies, porque está habituada ao clima temperado e quente. Cada exemplar pode chegar aos 15 metros de altura, o que ajuda a criar um manto de copas sobre as ruas e as mantém mais frescas graças à sombra. À dureza do asfalto, as flores respondem com delicadeza, casando as suas cores com as dos telhados e fachadas dos prédios. Mas como, enfim, não há rosa sem espinho, há igualmente quem se queixe da cola que a queda da flor espalha na calçada portuguesa, do mau cheiro e da rinite alérgica que provoca.

A primavera é época de alegrias, reflorescimento, renovação e novo fôlego.

Época propícia a propagar alergias, a primavera é, mais do que tudo isso, época de alegrias, reflorescimento, renovação e novo fôlego. É a altura em que as flores desabrocham, o sol quente acaricia o rosto, as temperaturas sobem e quando se espalha um perfume a Natureza até nas ruas mais poluídas. Sortudos os que moram no campo, em que os prédios não “fecham a vista à chave” e há cheiro a terra molhada quando chove. Na cidade, com ou sem pandemia a sequestrar-nos no domicílio, o inverno parece durar mais e custar mais a passar – parece mais húmido, mais chuvoso e mais cinzento.

A primavera será, com efeito, um bálsamo na vida de quem, como todos em Portugal e Mundo fora, tem vivido este longo inverno sitiado entre quatro paredes. O cenário repete-se e tudo indica que o país venha a “desconfinar” em abril, em plena primavera – mais um simbolismo da ideia de recomeço e renovação inspirada pela estação. E aí veremos os jacarandás floridos, as teias de aranha a esvoaçar, as abelhas a colher o mel e todas as outras plantas e seres vivos despontando para o novo ciclo. Chegará a primavera que merecemos!




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