Crónica de Ana Luísa Santos: o conforto do desconhecido

(Fotografia: Jacques Bopp/Unsplash))
Mais de um ano de confinamento depois, anseio por todas as novas experiências que ficaram em suspenso.

Sou fascinada pelo desconhecido, e pelo quão estimulante ele pode ser. Experimentar algo pela primeira vez é das minhas sensações preferidas, e procuro amiúde alimentar essa fome. Seja em atividades simples do dia-a-dia, como fazer uma receita, visitar um restaurante ou uma loja, percorrer um trilho, ver um filme ser saber sobre o que é, seja em projetos maiores, como viagens ou experiências. Foi para sentir algo novo, entre outras razões, que decidi fazer um interrail com amigos num ano, e viajar sozinha no outro, apesar da imensa inquietação que ambas as situações me provocavam. Percebo agora, também, que pode estar aqui o motivo de nunca ter sido exemplar em nenhum desporto extracurricular em específico – adorava as primeiras aulas, esforçava-me imenso, mas aborrecia-me rapidamente, e quando dava por ela já estava a pensar no que ia fazer a seguir. Foi assim na natação, no ballet, na dança, no andebol e no surf. Nunca me interessou ser uma excelente atleta, e nunca me senti mal por não o ser. O que me seduzia verdadeiramente era poder experimentar tudo o que estivesse ao meu alcance, muito graças a uns pais que me motivavam, e alinhavam comigo nestas pequenas loucuras.

Aprendi a andar de bicicleta, de patins (de quatro rodas e em linha), de trotinete e, claro, de carro. Não disse que não quando me perguntaram se queria andar a cavalo, de kart, aventurar-me na montanha-russa, fazer ski aquático ou stand up paddle, e agora decidi que era uma boa altura para experimentar escalada. Há uns anos, à boleia de uma reportagem sobre “escape games” para a Evasões, convenci uns amigos a irem comigo a um desses jogos. Hoje, mais de vinte salas depois (algumas fora do país), mal posso esperar por ficar trancada novamente, e sentir a adrenalina do tempo a passar, enquanto deciframos enigmas e códigos o mais rapidamente possível. As histórias sempre diferentes e o mínimo de informação possível sobre o que vamos encontrar no interior das salas são os ingredientes mágicos para mim.

Apesar de tudo, por vezes, também procuro lugares seguros e saber o que me espera. Gosto de estar em casa e de manter a ordem das minhas coisas, da previsibilidade do Natal, de um abraço, de um destino, de algumas respostas, e do sabor de certos pratos. Sinto até falta, sobretudo este ano, do calor previsível da época, que está a teimar em não aparecer. Sei que não é para todos – há muita gente que prospera apenas em ambientes e situação controladas -, mas, para mim, a sensação de fazer algo novo, e de avançar no que não conheço, é o que dá mais cor à minha vida.




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