Crónica de Ana Luísa Santos: elogio ao fofo

(Fotografia: Andrew Schultz/Unsplash)
Olhar para fotografias adoráveis de animais ajuda-nos a aliviar o stress. Talvez tenha sido o que me levou a entrar num grupo de Facebook dedicado a amantes de cães durante a pandemia.

À direita, um homem loiro de ar intrigado, com óculos de massa, envergando uma camisa com flores e pássaros contra um fundo azul-marinho. Ao centro e à esquerda da fotografia, dois buldogues franceses, um branco com manchas cinzentas e outro preto, ambos sentados em cadeiras amarelas e vestidos com camisas iguais às do dono. Todos com portáteis abertos à sua frente como que a trabalhar e, lá atrás, apesar de o calendário indicar que o mês é março, uma árvore de Natal esguia, devidamente iluminada. Aquilo que acabei de descrever é uma fotografia do americano Joey e dos seus cães Dill e Pickles. Umas das muitas – talvez, milhares? – que são partilhadas diariamente num grupo de Facebook dedicado a amantes de cães, com mais de um milhão de membros, de todas as partes do Mundo. A imagem era fofa e conseguiu arrancar-me um sorriso. Por momentos, fez-me perceber porque é que ainda tenho conta no Facebook, a rede social cujas caixas de comentários transbordam de crueldade.

Desde que entrei no grupo, tenho sempre à minha espera algo para animar o meu dia. Seja a história emotiva da adoção de um cão sénior; fotografias de “crimes”, como sofás roídos e outros delitos; cães vestidos ou mascarados; e imagens amorosas de crianças ou velhotes agarrados aos patudos. Há ainda quem procure alguma espécie de conforto nas palavras dos membros após perder os companheiros de quatro patas. E o surpreendente é que ninguém estranha, ninguém insulta. Claro que há o esporádico comentário maldoso, e um outro “troll”, mas, de forma geral, todos estamos lá para o mesmo: sermos feliz a ver cães. Gosto destes recantos na Internet, onde se vai exclusivamente para ver animais adoráveis, como o popular sub-fórum /aww, do site Reddit, ou uma das centenas de contas do Instagram dedicadas a partilhar cães, gatos, e muito mais. E a ciência justifica, dizendo que há uma pequena descarga de dopamina quando vemos este tipo de imagens, o que se traduz num aumento da felicidade e uma redução do stress.

Foi precisamente para explorar o “fofo” e o “kawaii” (aquilo que é fofo na cultura popular japonesa) que o professor da Universidade de Tokyo Gakugei, Joshua Paul Dale, fundou um novo campo académico o Cute Studies. E segundo o site homónimo a fofura torna-nos mais sociais, melhora a empatia, aumenta a motivação, e melhora a performance física e mental. Eu já sabia, mas agora tenho a certeza… mimar o meu cão é o melhor suplemento. Para ambos.




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend