Crónica de Ana Luísa Santos: “Deixar apenas pegadas”

Vista da Serra da Peneda, no Centro Interpretativo da Porta do Mezio. (Fotografia de Pedro Granadeiro/Global Imagens)
Continuo a ficar surpreendida com o lixo que vejo em lugares que deviam estar imaculados, mas as gerações mais novas e certos projetos repõem a minha esperança num planeta são.

Agora que termina o ano letivo, e as férias de verão arrancam, chegamos à época de ver lixo por todo o lado. Não é que não se polua durante o ano inteiro – foi ver pessoas a descartarem as máscaras para o chão, após saírem dos supermercados -, mas, no verão, o flagelo sente-se muito em zonas naturais.

Escrevo sobre isto porque, há uns dias, conheci um poço de água muito bonito, em Penafiel, e uma placa em madeira pintada à mão pedia aos visitantes – com um “smile” e tudo – que levassem embora o lixo trazido, enquanto uma outra envergava um “Respeita a Natureza”. Pensei que tais pedidos, por esta altura, seriam desnecessários, mas logo apareceu um chinelo, plásticos variados a flutuar para me provarem errada. Claro que não foi a primeira vez que assisti a um cenário destes.

Já vi de tudo, em lazer ou à boleia de reportagens para a Evasões, no meio da serra, em praias, cascatas, lagoas, jardins e parques, mas custa-me sempre perceber a dificuldade em guardar a garrafa de água ou a embalagem de bolachas na mochila ou num bolso. Pesa? Dói? Não é “fixe”? Não sei responder, e o mistério adensa-se a cada ano, o que é aborrecido para mim, porque tinha outras questões prioritárias para decifrar, como entender qual é a função dos buracos negros ou saber se existia algo antes do Big Bang.

Ao não colocarmos o lixo no lixo, não só poluímos estética e ambientalmente o lugar, como deixamos como herança um mundo (ainda) pior para as gerações vindouras. Não pode ser só ir para a Natureza quando nos apetece, usando e abusando dela, há que a respeitar. E respeitar é não poluir, não arrancar vegetação, não ouvir música em decibéis exagerados, não fazer fogueiras e, de preferência, não passar demasiado tempo no mesmo lugar, dando a possibilidade a todos de usufruírem da frescura de uma cascata ou de uma lagoa, sem se condensarem multidões. Claro que o respeito pela Natureza também passa por não tornar a floresta portuguesa um monótono eucaliptal, ou usar a erva-das-pampas como decoração, mas isso são outros quinhentos.

Felizmente, sei que há muita gente sensibilizada para estas questões, e ouvir os meus primos mais novos faz-me acreditar que há esperança para o planeta. Soube, pela ONU News, que Portugal é o país da Europa que mais praias limpou em 2021, e sigo atentamente o The Ocean Cleanup, uma organização sem fins lucrativos que cria soluções em grande escala para limpar rios e oceanos. Para concluir, resta-me desejar boas férias, e pedir a quem vai para os lugares maravilhosos deste país, que os deixe apenas com pegadas.




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