Crónica de Ana Luísa Santos: As ilhas maravilhosas

Lagoa de Sete Cidades (Fotografia: Adelino Meireles/GI)
Descanso, passeio, história, aventura, paisagens com fartura e boa mesa - os Açores oferecem tudo isto, mas há muito mais para descobrir nestas ilhas-paraíso.

O aroma doce do jasmim já perfuma o jardim da minha avó. É o primeiro aceno da primavera, que começa a temperar as noites e a aquecer o rosto ao sol. Daqui ao verão, às férias, ao passeio, à descoberta do desconhecido, é um saltinho, e fazer planos é uma metade igualmente saborosa da viagem. Pudesse eu escolher qualquer lugar para viajar e provavelmente não iria longe. Ficar-me-ia pelos Açores, arquipélago do qual já tive o privilégio de conhecer duas ilhas: São Miguel e Pico. Ambas as viagens marcaram-me tanto que pretendo fazê-las novamente.

São Miguel percorri sozinha, num período difícil. Mas a ilha foi generosa e deu-me tudo o que precisava para sair de lá com a alma em paz. Ajudaram as pessoas gentis com quem me cruzei, a noite chuvosa passada nas águas quentes e férreas da Poça da Dona Beija, a visão de uma beleza avassaladora da Lagoa das Sete Cidades a partir do Miradouro da Grota do Inferno. Ajudou a tarde em que passei sentada em frente à piscina do Pesqueiro, a ouvir música e a pensar que luxo era, os açorianos poderem mergulhar no mar em novembro como se fosse agosto. Também ajudou o pequeno-almoço tardio feito no Louvre Michaelense, abraçada pela aura vintage do espaço, assim como todos os momentos em que me sentei a comer (e a beber) com calma – fosse um pão com queijo, uma queijada, um chá da Gorreana.

A visita à ilha do Pico foi feita à boleia de uma reportagem para a “Evasões”. O contexto foi diferente, a experiência igualmente prazerosa. O movimento é muito inferior ao que se encontra na cosmopolita São Miguel, o que torna aquele pedaço isolado de terra a minha ideia de paraíso. Toda a ilha é pintada por um verde exuberante, rodeada por um mar azul brilhante que contrasta com o chão de lava negra. De qualquer perspetiva, desde que não haja nuvens, impõe-se o vulcão, para nos lembrar da nossa pequenez e da nossa fragilidade. Mas também da resiliência das pessoas que fizeram aquele chão de lava dar uvas no século XV, e das que o fazem hoje. A paisagem vínica do Pico é património mundial e vale a pena visitar os produtores de vinho e ouvir as histórias que têm para contar, sobre como os currais foram construídos para proteger a videiras do vento e da água do mar.

A ilha faz-se de outros encantos, como o sossego que se encontra em qualquer lado, os petiscos com sabor a mar, a deliciosa manteiga Rainha do Pico, a cantoria noturna dos cagarros, as piscinas naturais e o poder de tornar coisas simples – como andar de bicicleta pela marginal ou observar o céu – momentos inesquecíveis. Pudesse eu ir a qualquer lado, a escolha seria fácil.




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