Crónica de Ana Luísa Santos: A saga dos presentes

(Fotografia de Lore Schodts/Unsplash)
No meio do caos que se pode tornar a aventura das compras de Natal, refletir sobre o que queremos mesmo oferecer pode ser o mais importante.

Sinto que o encanto natalício se vem dissipando há alguns anos. Não me entusiasmo com contagens decrescentes, nem com árvores, nem com luzes. A falta de certas pessoas à mesa desbotou o brilho da quadra e, embora eu adore oferecer, a quase obrigatoriedade de comprar uma data de presentes invoca um stress miudinho, causado tanto pela incerteza da recetividade das oferendas, como pela quantidade de dinheiro gasto.

Se há época que pode ser mágica – para alguns – e stressante em doses iguais, é esta. Vai-se adiando tratar da lista dos presentes até à última hora, e, por vezes, acabamos num centro comercial apinhado, a comprar coisas insípidas, sem significado nenhum, acompanhadas pela isenção de responsabilidade que representa o talão de troca.

Uma das resoluções que gostava de já ter posto em prática era o ir comprando as prendas de Natal durante o ano, sempre que encontrasse algo que me falasse ao coração. Ainda não foi este ano, mas está aí um novo à porta para pôr esta ideia em prática. Até lá, vou munir-me do guia de sugestões que compõe o tema de capa desta edição e tentar comprar português e artesanal, de preferência, no comércio tradicional. Acho encantador oferecer algo que pode ser complementado por uma história, como as carteiras em cânhamo da marca 8000Kicks, fundada por avó e neto, ou as velas da cerá, um projeto que surgiu e cresceu durante a pandemia, e cujo nome partiu da música “Que sera, sera”, popularizada por Doris Day.

Outras opções passam por presentes feitos em casa, como fotografias, peças tricotadas, fermentados e conservas, biscoitos, compotas ou mesmo algo inventado, como os cartões que permitem ao portador pedir qualquer coisa a qualquer hora a quem os oferece. Estes últimos foram-me oferecidos pelo meu namorado, no Natal do ano passado, e embora soubesse que nunca os iria usar – porque aprecio a democracia – fiquei muito comovida. Talvez por acreditar que as coisas mais luxuosas que podemos oferecer são o tempo, a presença e a disponibilidade.




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