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Crónica de Ana Costa: Porque somos mais felizes perto da água

A praia dos Lavradores, em Vila Nova de Gaia. (Fotografia de Pedro Granadeiro)

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Atrai-nos o bafo fresco e salgado do mar, que se cola à pele como um bálsamo revigorante. A sua dança hipnótica e o temperamento inconstante – ora manso, ora turbulento -, inspiram-nos os ânimos.

Atrai-nos o murmúrio suave do rio, que sopra ao ouvido seguro de onde vai. Cintila sob o sol, calmo e doce, contornando vales e prados no seu caminho. Também ele quer ver o mar.

Atrai-nos o sibilo ténue da lagoa, espelhada pelo abraço de encostas verdes. Mansa e profunda, recebe a cascata que se atira confiante para ela, para encontrar descanso.

Atrai-nos a água, em todas as suas formas, desde que somos gente. Aprendemos na escola que é um dos elemento fundamentais à vida, mas não se trata apenas de sobrevivência. A água é companheira de aventuras – tem sido a nossa bússola desde que começamos a explorar o mundo. É confidente e curandeira. Alimenta, acalma e lava todos os males.

Há tempos li um artigo que se debruçava sobre as razões pelas quais somos atraídos para a água e nos sentimos mais felizes perto dela. Baseava-se no livro Blue Mind, do biólogo marinho Wallace J Nichols, que através de um conjunto de estudos mostra que quer seja o mar, o rio, a lagoa ou uma gota de orvalho numa flor, a água tem efeitos muito positivos na nossa saúde e bem-estar físico e mental. A essa sensação de paz que sentimos ao redor da água, o autor chama de “mente azul”, uma oportunidade de desligar da agitação do mundo moderno, em favor de um raro momento de sossego, reflexão e conexão com nós mesmos.

A água tem efeitos muito positivos na nossa saúde e bem-estar físico e mental.

 

 

 

Mergulhar na água fresca é leveza e enrijece os ossos (já diziam os antigos). Observar o poder e a vastidão do oceano é libertador e intimida. E o horizonte dá-nos esperança.

Quem nunca passeou no areal, junto à linha de rebentação, esperançoso de que, no seu último esforço, as barbas brancas das ondas lhe envolvam os pés num beijo fresco e delicado? Ou em criança correu para lhes fugir e alcançar, num jogo da apanhada com o mar. E sentiu uma alegria e paz imensuráveis ao fazê-lo.

E cada um de nós, quando precisa desse tónico retemperador, sabe bem o que procurar. Todos temos “a nossa água”. A minha pende entre o mar bravo e a lagoa espelhada, uma escolha que assenta no respeito, no receio e no entusiasmo que advêm de não saber nadar mas sentir uma enorme admiração por esses lugares misteriosos. Por vezes, sentada à secretária, em frente ao computador – como estou neste momento -, basta a incessante corrente de água a cair no tanque, que ouço pela janela, entre o chilreio dos pássaros, o assobio do vento e o ocasional carro de passagem, para me acalmar as angústias e alegrar o espírito. Mas estes dias quentes, prenúncio do verão, têm sido um convite a sair para molhar o pé no oceano, no rio ou numa lagoa de montanha. Acatemos. E sejamos felizes.