Crónica de Fernando Melo: Picamiolos, Lisboa

Parece que é desta. Petisco alentejano preparado e servido como nem no Alentejo, pratos da lavra e talento de José Júlio Vintém, e lugar de luxo no Cais de Sodré. Não há quem não goste, e Lisboa merecia. Picamiolos, a nova morada da boémia.

Deixamos a rua cor de rosa, centro nevrálgico da movida baixeira do Cais do Sodré, e logo ali fica o Picamiolos, de que é difícil imaginar a dimensão sem entrar. Entremos então, para dar com os dois pisos de um espaço cheio de recantos e inspirações, muitos planos de mesas.

O chef José Júlio Vintém propõe-se e impõe-se nalguns pratos que são seus e desdobra-se em declinações inéditas. O homem que cozinha como respira tem bandeira e vela enfunada com a marca Alentejo que lhe conhecemos e está sempre em movimento. Aproveito o momento em que está todo aqui, para viajar na sua nave e depressa percebo que veio para ficar.

Constam as pétalas de toucinho (6 euros), assinatura inconfundível do chef Vintém, o tratamento exímio à gordura mais nobre na preparação e no tempero, no início dos inícios chamava-se carpaccio de toucinho, o rebatismo tornou-o mais próprio. Constam também os petiscos que ninguém dispensa mas raramente encontra, mão de vaca com grão (9 euros), brilhante, colagénios bem puxados, costeletas de coelho fritas (12 euros), viciantes e inéditas, rebuçados de cação (10,50 euros), cubinhos do dito fritos com um dip de molho tártaro, orelha de porco grelhada (7 euros) de antologia, focinho de porco grelhado (9 euros), trabalho notável como só Vintém sabe fazer, e molejas de borrego (9 euros), textura finíssima, matéria-prima de truz.

Há sopa de tomate com ovo escalfado (6 euros), check-in no céu para ficar imponderável até à última colherada. Nos pratos chamam por nós o rabo de boi com puré de cherovia (16 euros), assessoria de batata-doce a aligeirar bem o conjunto, sabor assumido e forte. Incrível de fino e requintada a barriga de atum com puré de grão (28 euros), caldo de aves feito consomé fino e trabalhado ao limite. Outro caldo que surpreende é o da poejada de bochechas de bacalhau (21 euros), de repetir vezes sem conta, extração mínima, equilíbrio supremo.

Nas sobremesas não podiam faltar nem o tecolameco (6 euros), apresentado com gelado de iogurte, nem a boleima (6 euros), servida com gelado de caramelo salgado. Entendimento perfeito com Ricardo Santos, que conhecemos do By the Wine, na Rua das Flores e aqui está em parceria com José Júlio Vintém, dois saberes e dois amigos. Como tem de ser.

 

A refeição ideal
Corações de alcachofra (12 euros)
Pétalas de toucinho (6 euros)
Rebuçados de cação (10,50 euros)
Poejada de bochechas de bacalhau (21 euros)
Bochechas de porco ibérico com cebolada (16 euros)
Boleima com gelado de caramelo salgado (6 euros)

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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