Vila do Conde: neste Rio, quase todos os pratos vão dar ao mar

“A conserva portuguesa”, servida em louça com forma de lata. (Fotografia de Pedro Granadeiro)
Há novidades no Rio by Paulo André, em Vila do Conde, com foco nos peixes e mariscos. As propostas refletem memórias de infância do chef, que nos quer fazer sentir vivos pelo palato. Intensidade é a palavra-chave.

Paulo André trabalhou em diferentes casas, do Grupo Rui Paula ao hotel FeelViana, em Viana do Castelo, até regressar a Vila do Conde para abrir o seu restaurante de alta cozinha. Três anos após a inauguração do Rio, na Praça da República, com vista para o Ave, é o mar que toma conta da mesa, repleta de novidades. O chef está cada vez mais focado nos peixes e mariscos da região, com muitas das suas propostas a refletir memórias de infância.

“Sempre nadei em águas agitadas, e parte dessa alegria era engolir água também; quando engolimos água salgada, sentimo-nos vivos. Quero que as pessoas sintam no prato essa intensidade.”

Empenhado em “honrar as raízes e trazer o que temos de melhor, que é o que o mar nos dá”, Paulo André revolve o baú de recordações – dos banhos perante ondas de quatro metros aos ouriços que, de tão abundantes, lhe ficavam nos pés. “Sempre nadei em águas agitadas, e parte dessa alegria era engolir água também; quando engolimos água salgada, sentimo-nos vivos. Quero que as pessoas sintam no prato essa intensidade”, explica.

“O chocolate fumado e a pipoca”, numa louça em forma de grão de cacau.
(Fotografia de Pedro Granadeiro)

Para perceber de que fala, nada como experimentar o menu de degustação “Origens”, que arranca com uma homenagem às conserveiras da terra – lembra-se de haver três, perto das Caxinas, e lamenta que estejam a desaparecer. “A conserva portuguesa”, servida em louça com forma de lata, é uma entrada que envolve brûlée de mexilhão, ovas de peixe, caviar de soja, esferificação de tomate e pickle de cebolinha.

“As conservas e os azeites estão para nós como os perfumes estão para os franceses e os fatos para os italianos.”

“As conservas e os azeites estão para nós como os perfumes estão para os franceses e os fatos para os italianos”, comenta Paulo André, cujo pai andou na pesca do bacalhau e, quando vinha a casa, trazia chocolate. Essas lembranças ecoam na sobremesa “O chocolate fumado e a pipoca” (chocolate com um toque de fumo, gelado de pipoca, biscoito de limão, bolacha de caramelo e creme de maracujá). A louça assume a forma de grão de cacau.

o canelone de lavagante com véu de navalheira.
(Fotografia de Pedro Granadeiro)

Ainda no menu “Origens”, há um momento que junta santiago (ou bruxa), percebes e espuma de ouriço. “É difícil entrar mais mar num prato”, observa Paulo André, que dá seguimento à viagem com peixe-porco acompanhado por musseline de camarão, espargos e molho de caviar; e lavagante com risoto de sapateira, salicórnia, emulsão e crocante de crustáceos.

A pré-sobremesa também conta uma história: é o “Caladinho”, recriação de uma cornucópia recheada com creme, coberta com açúcar e canela, que se vendia à porta da feira de Vila do Conde, e cujo nome advém da expressão “toma lá e está caladinho”, aponta, divertido. Esse doce surge, igualmente, no menu de degustação “Clássicos”, com pratos que têm lugar cativo ali.

O prato de cordeiro é um dos poucos que levam carne.
(Fotografias de Pedro Granadeiro)

Escolhendo à carta, encontra-se ainda sugestões como o canelone de lavagante com véu de navalheira; o mosaico de tamboril, caldeirada, alcaparra e açafrão; ou o risoto de açafrão, legumes da horta e crocante de couve roxa (vegetariano). A carne está em minoria, mas não deixa de haver um prato novo: cordeiro de leite, salsifis, puré de alcachofra de Jerusalém e tosta de cordeiro. Para quem não ligar tanto à praia.

Partilhar
Mapa da ficha ténica
Morada
Praça da República, 8, Vila do Conde
Telefone
252 602 182
Horário
Sábado e domingo, das 12h às 15h e das 19h às 23h; quarta a sexta, das 18h30 às 23h. Encerra segunda e terça.
Custo
() Menu de degustação “Origens”, 120 euros (oito momentos; harmonização de vinhos, 70 euros); menu de degustação “Clássicos”, 90 euros (oito momentos; harmonização de vinhos, 55 euros); preço médio à carta: 60 euros.


GPS
Latitude : 39.3999
Longitude : -8.2245




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend