Um palácio a estrear e outras boas notícias no Cadaval

Fazendo da novidade pretexto, há muitos motivos para regressar à Quinta do Gradil. (Fotografia: Paulo Spranger/GI)
Novo enólogo, novos vinhos, nova carta de restaurante. E um palácio oitocentista renovado, com vista para as vinhas. Fazendo da novidade pretexto, há muitos motivos para regressar à Quinta do Gradil.

O palácio era uma velha ambição de Luís Vieira. Às tantas, perdeu a conta à quantidade de vezes que teve de responder à mesma pergunta: «Tem planos para recuperá-lo?» É que não se tratava de um casebre qualquer. Era, afinal, o palácio do 6.º marquês de Pombal, emblema da quinta, silhueta presente nos seus rótulos e figura de postal que se assomava entre vinhas a quem passasse na EN115.

Luis Vieira, proprietário da Quinta do Gradil
(Fotografia: Paulo Spranger/GI)

Pois agora, volvidas duas décadas sobre a compra da herdade, Luís fez jus à resposta que, outras tantas vezes, terá dado: «Claro que sim!», sempre com a ressalva de «não dar passos maiores do que a perna». Passo a passo, construiu uma das maiores empresas nacionais de vinhos (Parras Wines), com vinhas no Oeste e no Alentejo, a somar às marcas próprias no Douro, Dão, Setúbal, Tejo e nos Verdes. Vinhos feitos, sobretudo, para a relação qualidade/preço, para a grande distribuição – Pêra Doce, Mula Velha e 370 Léguas são algumas das referências do extenso catálogo.

Na quinta onde tudo começou, Luís está a trabalhar um reposicionamento dentro do segmento de topo. «Fine wines com diferenciação», resume. O topo do topo. Monocastas, pequenas tiragens e experiências com castas novas são as linhas orientadoras. Castas como encruzado, a rainha dos brancos do Dão, em jeito de ensaio, «a ver como se comportam», extraindo motivação dos resultados obtidos pelo hectare de alvarinho plantado há quatro anos, e que em 2018 deu o seu primeiro vinho – mineral, estruturado, com fruta q.b. Uma surpresa para quem o conhece bem no seu território de origem, o Minho.

Esta novidade tem já a mão de Tiago Correia, o novo enólogo da casa. Tiago chegou há coisa de um ano, vindo dos vinhos de Carcavelos – e não esconde a vontade de fazer algo aproximado ao registo do licoroso que o Marquês de Pombal ajudou a refinar.

De volta ao palácio. O projeto não está concluído, falta-lhe ainda «a parte mais romântica», brinca Luís, assumindo qual será o passo seguinte: a criação de uma cave de barricas, no piso térreo da antiga casa de campo dos marqueses. Mas o primeiro grande passo já foi dado, com a recuperação estrutural, o restauro da fachada e da capela, e a conversão do piso nobre em espaço de eventos, com um salão para sentar duas centenas de convidados (além de um pátio com o dobro da capacidade) e espaço de provas.

Passo a passo, também o jovem chef ribatejano Daniel Sequeira, que ali chegou em 2015 com o briefing de fazer brilhar os vinhos da casa, tem feito o seu caminho ao leme do restaurante da quinta. Anda agora entusiasmado com a horta de aromáticas que cresce atrás da cozinha, onde rebentam manjericão-roxo, alfazema, tomilho-limão, e em breve serpão e beldroegas.

Fala com igual anseio de recuperar o grão-de-bico-preto, e de ingredientes como a farinha de trigo barbela e a urtiga em pó, que já tem a uso. A tudo isto junta os vegetais do Hortelão do Oeste e do Quintal Urbano, o peixe de Peniche e, dada a proximidade territorial, algumas bases da cozinha do seu Ribatejo, como o torricado – que serve num estival couvert com paté de sardinha e manteiga de pimentos – e a manja, uma esmagada de pão, batata, alho e azeite, que aqui faz companhia ao bacalhau cozido em vinho tinto.

O peixe de rio também lhe interessa, mas, estando em zona de mar, é com essa imensa matéria-prima que trabalha. Com pargo e robalo, por exemplo, que combina com o carabineiro algarvio num arroz cremoso (e guloso) «da nossa costa». A seu lado, brilha o tal alvarinho, à semelhança do restante desfile da prata da casa, ombro a ombro com a cozinha criativa do chef Sequeira. Digno do palácio de um marquês.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

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