Confesso desde já a minha dificuldade em transmitir eficazmente o que se sente e o que acontece nesta casa, tal a perplexidade com que reagimos à novidade em quase tudo. O que vai passando pela nossa mesa é deveras impressionante. Se vai pela primeira vez, rogo-lhe que o faça a uma quinta-feira, o dia do cozido barrosão. José Manuel Sá é o feliz proprietário deste templo do produto do Barroso e seu fervoroso militante.
O cozido desta casa abençoada é constituído por uma diversidade de sabores e texturas, integralmente vinda do Nordeste barrosão e povoada por denominações de origem protegida que abrange enchidos, carnes frescas, carnes fumadas e até presunto. O célebre presunto de Chaves vem muitas vezes de Montalegre, e por isso merece a nossa vénia. Reconhece-se o presunto de chaves pela forma arredondada porque a cura é feita com a peça fechada com atilhos, e não pela técnica de secagem por suspensão. Vem daí a obsessão do Abade de Priscos pelo presunto gordo de Chaves, que faz toda a diferença no tocante ao pudim com o seu nome.
Regressamos ao cozido para dizer que um bom cozido tem por força de obedecer ao princípio basilar da transformação da água em ouro e por isso mesmo não há sopa como a do cozido. É da sucessão de cozeduras pela ordem certa que nasce a essência transmontana e rica. Fazemos a vénia ao verdadeiro monumento que se materializa por mistério à nossa frente.
Há pratos do dia para quem busca outras experiências mas ainda não esgotei os cortes de barrosã desta pérola em Alvalade. Fiquei siderado e encantado com o T-Bone – peça que é vazia de um lado e lombo do outro – e a picanha, o vezeiro corte de influência brasileira que já ninguém dispensa e que aqui tem tudo um outro charme. A chef Sónia tem sempre surpresas à sua espera, consulte antes de decidir.