Estamos na zona do Carvoeiro, quase na extrema do barlavento algarvio, nas mãos do chef José Lopes. Detentor de uma estrela Michelin há quase 10 anos, o Bon Bon foi dos primeiros restaurantes nacionais a conseguir o feito e o risco de pertencer ao clube da excelência. O cobiçado guia vermelho tem mais detractores que amantes, diga-se em abono da verdade, mas o certo é que se trata de um sistema de normas e regras que visam sobretudo a garantia da sofisticação e um certo funcionamento em rede dos restaurantes de todo o mundo. Isso é conseguido por inspetores internacionais que trabalham em exclusivo para o guia Michelin.
O restaurante funciona com base em menus e escolho o mais extenso para melhor me inteirar da filosofia e conhecimentos desta grande cozinha. São nove momentos e começam por duas entradas, a primeira das quais é constituída por carapau, pinhão e lima caviar, grande frescura e ao mesmo tempo evocação popular que começa por ligar os comensais entre si, com a ideia de que o luxo está na simplicidade, regra que acompanha toda a refeição.
O segundo momento consta de carabineiro, melancia e enchidos de Monchique, trabalho de ligação mar e terra típica do vizinho barrocal algarvio, Segue-se o momento do pão, que é de fermentação natural e marca a fronteira entre entradas e pratos. Surge a abrótea e Ria Formosa, uma clara homenagem ao sotavento, no outro lado do Algarve e igualmente rico. O quinto momento chama-se cogumelos boletos da Guarda e é uma chamada ao que a terra produz por si própria. Penetramos no seio do já citado barrocal quando vem a carne de porco à alentejana, de novo a fusão mar e terra que tanto o caracteriza.
A refeição fecha com duas sobremesas, a primeira de banana e chocolate, dois ingredientes de fora de Portugal, a segunda de pêssego, queijo de Azeitão e noz, integralmente portuguesa. Chegamos ao final com sentimento elevado de equilíbrio, virtude de José Lopes e também de Nuno Diogo, proprietário exímio nas harmonizações de vinho e comida. Uma grande experiência.