Estão convidados para a experiência sideral de uma refeição no Gambrinus, na Baixa lisboeta. Além de ter o balcão mais cobiçado da capital, é o local certo para se conferir pratos do nosso imaginário, confrontando-os com a versão autêntica. Eis a cozinha portuguesa mais cobiçada, por ser a que todos achamos que sabemos fazer, mas que aqui é executada de forma sublime.
Comecemos pela omelete com gambas, que deixou de circular como especialidade e que poucos executam como deve ser. Ainda no cenário entrante, damos com o raro cocktail de gambas, acontecimento feliz, e vieiras com caviar de arenque. O quadro fica completo com amêijoas à Bulhão Pato, apropriação da inefável preparação do chef João da Mata por um poeta de parcas letras – estamos proibidos de utilizar vinho no molho.
Nos peixes, confesso-me pecador pelo quanto desejo o linguado com alcaparras, ou o cherne grelhado com molho tártaro, e as lulas fritas à andaluza, que atingem estatuto de excelência. Nas carnes, a minha gula e memória exigem os fígados de aves com maçã e o rim com vinho Madeira. Outra fantasia que sempre sobe ao intelecto é o rosbife frio à inglesa, de que já encontrei registos em banquetes por terras de França da responsabilidade – imagine-se – do Abade de Priscos.
Aproveito para entrar nas sobremesas, onde reina o pudim do mesmo nome, juntamente com a trouxa-de-ovos e os crepes Suzette. E há mais. No mundo incerto em que vivemos, é bom saber que segunda é dia de filetes de peixe e empadão de perdiz. Quarta, há sopa de peixes. E quinta “eisbein” – joelho de porco com chucrute. Assim como é bom continuar a contar com o Gambrinus como referência.
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