Peixe na Avenida: o regresso ao mar no centro de Lisboa

Dos descobrimentos ficaram as especiarias e os sabores das terras lusófonas, que recupera agora a chef Luísa Fernandes, acabada de regressar de Nova Iorque. Peixe e marisco traçam um menu despretensioso, que sabe a Portugal do início ao fim.

Fala-se em ceviche e o imediato é pensar no caldo peruano, de sabor cítrico, e no peixe marinado. Luísa Fernandes tem quatro no menu do novo Peixe na Avenida, mas com a sua própria versão. Primeiro, o peixe é da nossa costa e, além do tradicional salmão, encontra-se carapau, atum rabilho dos Açores e também cavala do arquipélago. Em segundo lugar, os sabores cítricos mantêm-se no prato, mas sem o caldo. «Gosto que consigam apreciar o verdadeiro sabor do peixe», explica a chef, de 64 anos, que regressou de Nova Iorque há pouco mais do que seis meses.

Foi lá que viveu nos últimos 15 anos para perseguir o sonho americano de fazer carreira na gastronomia. Na bagagem levava 31 anos como enfermeira e a experiência do restaurante que teve durante algum tempo, em São Bento, Lisboa. Queria mais e Nova Iorque deu-lhe mais. Passou os últimos sete anos à frente da cozinha de Robert, um prestigiado restaurante, localizado no nono andar do Museu de Arte e Design, com vista para Central Park.

Cozinhou para Bono, Kofi Annan, Isabella Rossellini e Lisa Minelli.

Antes ainda venceu o concurso norte-americano Chopped Chef, ao impressionar o júri com peixe e chouriço, e depois com um mil-folhas, duas das combinações que trouxe agora para o Peixe na Avenida, que abriu este mês numa das ruas transversais à Avenida da Liberdade, junto à Praça da Alegria.

O proprietário deu-lhe carta livre para criar o menu, que se divide em ceviches, sashimis e pratos que sabem a Portugal e às terras lusófonas, com margem ainda para os grelhados e uma única opção de carne, para quem prescinde do mar. «Encontram-se influências de Goa, Moçambique, mas também do Japão com a tempura que eles vieram buscar a nós», explica a chef Luisinha, como é também conhecida Luísa Fernandes. Influencia essa está presente nos peixinhos da horta que dão ainda mais cor a um prato que já tem batata vitelotte (roxa) como companhia de um tranche de pargo grelhado.

A subtileza dos sabores e a homenagem à gastronomia nacional continuam em apostas como o polvo assado com vinho da Quinta da Pacheca – «de quem também uso o azeite» – com batata doce à moda dos Açores e esparregado de grelos. Ou o robalo grelhado, que traz a parelha inseparável «favas e chouriço», a bordo deste navio, onde todo o peixe é selvagem, comprado a Açucena Veloso. «Não gosto cá de peixe de piscinas», diz, risonha, Luísa Fernandes, que guarda para o fim da refeição uma mousse de chocolate à antiga, com um twist. Densa, quase parece um bolo de chocolate. Em cima tem flor de sal e bacon coberto de chocolate, com o sabor salgado e doce a contrastarem.

Só não podia faltar o mil-folhas, ou leopold, como lhe chamam nos Estados Unidos, um dos doces pratos marcantes da carta, que lhe abriram portas em terras do Tio Sam.

 

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