Numa espécie de galeria subterrânea, entre robustas paredes de pedra despida, pilares reforçados a betão – para suportar o peso do imponente Mosteiro de Santa Clara – e belíssimas abóbadas em tijolo, uma cozinha aberta para esse espaço singular e um conjunto de mesas intimistas estabelecem a atmosfera do Oculto. O restaurante de autor do hotel The Lince Santa Clara deve o nome ao facto de ocupar um piso secreto, descoberto durante as obras de renovação do edifício histórico, que se debruça sobre a foz do rio Ave, no postal de Vila do Conde, desde o século XVIII.
“Quando vim aqui pela primeira vez isto estava tudo submerso, tive que entrar de galochas, e lembro-me de perguntar, “Onde é que está a vista? Não há janelas?”, recorda o chef Vítor Matos. A ideia de imersão que sentiu nesse momento inspirou um dos menus que assina em conjunto com o chef Hugo Rocha. A dupla conduz a cozinha do Oculto sustentada numa relação de amizade com mais de uma década – Vítor Matos foi mentor de Hugo Rocha no início da sua carreira, na Casa da Calçada, e mais tarde voltaram a trabalhar juntos no Antiqvvm, onde Vítor Matos conquistou este ano a segunda estrela Michelin. Isto permite que o trabalho a quatro mãos flua naturalmente, complementando-se. “Somos amigos e pensamos de forma muito semelhante, temos essa vantagem”, reconhece Hugo Rocha.
Para o Oculto, criaram uma oferta de fine dining descomplicada, inspirados na proximidade com o mar e na tradição piscatória da cidade, que se traduz em dois menus de degustação: o Flora, com cinco momentos totalmente vegetarianos, e o Imersão, de cinco ou oito momentos de epopeia marítima.
A primeira abordagem é feita em frente à cozinha, num ambiente mais informal, com um trio de entradas de onde se destaca o patê de fígado de tamboril (no menu dedicado ao pescado), de sabores intensos, baseado num prato de foie gras que acompanha os cozinheiros desde a Casa da Calçada.
Os momentos seguintes são saboreados à mesa, e em querendo, com harmonização vínica. Do desfile mais longo do menu Imersão, são de esperar uma fresca salada de sapateira e batata olho-de-perdiz; uma lula caramelizada com arroz de tinta, cuja acidez equilibrada do vinagre faz lembrar uma cabidela; ou o epítome do mar na boca com um prato de ruivo e percebes da costa de Vila do Conde, com molho de ouriço-do-mar.
A garrafeira do Oculto acompanha com mérito as criações dos chefs, e a atenção prestada ao que vai no copo traduz-se também numa série de jantares vínicos, com produtores convidados; e nos eventos exclusivos da Wine Cellar, uma sala privada, escondida ao fundo da galeria e pensada especialmente para os enófilos que ali queiram desfrutar de uma experiência enogastronómica ainda mais especial.
Longitude : -8.2245