Aos 87 anos, Tia Alice posa para a fotografia junto aos três fornos a lenha onde se assa o leitão há quase duas décadas e meia. “Alguma há-de ficar boa”, ri-se a matriarca, de graça e simpatia exímias, que já no final dos anos 1950 vendia leitão nas feiras e mercados da zona, com o marido, António. É ela quem deu nome ao Tia Alice, uma das paragens obrigatórias quando se fala em leitão de Negrais, concelho de Sintra, e que é sinónimo de casa cheia. “Metade do nosso público vem cá desde o primeiro dia”, conta Silvéria Santos, filha da Tia Alice, que gere o restaurante familiar com a ajuda das três filhas, Lurdes, Teresa e Alexandra – esta última mais ligada ao espaço homónimo que surgiu depois no Loures Shopping.
“A qualidade do leitão é o mais importante”, explica Silvéria. Vem todo da serra algarvia, onde é criado ao ar livre, e de fornecedores antigos de confiança. Num dia normal, as fornadas começam pelas seis da manhã, havendo uma segunda antes de almoço e uma terceira antes do jantar. Só no ano passado, assaram-se nesta casa 11 mil leitões. “No Natal e no Ano Novo, os fornos não param durante as 24 horas do dia”, afirma Marco Caneira, ex-futebolista e genro de Silvéria.
O leitão vai ao forno deitado na grelha, aberto e estendido. Fica 25 minutos com a pele para cima, depois vira-se e deita-se um molho por cima, ficando no forno durante mais hora e meia. O resultado é a pele estaladiça e a carne tenra e suculenta, acompanhada com batata frita caseira, mas também com saladas e o arroz de miúdos do leitão, já que todas as partes são usadas, como se comprova também nos pezinhos de coentrada. Quem queira levar para casa, pode ir à zona de loja e levar o petisco embalado, em doses, meias doses ou inteiro.
Para harmonizar com a carne, vale a pena provar o vinho Tia Alice, um frisante branco feito de propósito para esta casa, com a sua frescura e acidez a cortar a gordura natural do leitão. Antes da despedida, há ainda espaço para provar o bacorinho, especialidade doce feita aqui no Tia Alice, que junta doce de ovos, amêndoa, canela e fios d’ovos, queimado depois na superfície, quase como um leite creme.
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