Situado no centro do Monte Estoril, o novo inquilino da vila sugere uma travessia de dez mil quilómetros e um recuo no tempo em cem anos. Entre os arcos nas paredes e janelas que fazem lembrar a estética da arquitetura colonial e o chão axadrezado em mármore, o Aires Estoril inspira-se nos cafés de Buenos Aires das décadas de 1920 e 1930, também estes salões de dança de tango, o mesmo que vai ecoando pelas colunas do restaurante, ainda que num ritmo mais contemporâneo.
Uma decoração que junta um modernismo elegante com a devida dose de nostalgia. A homenagem à Argentina estende-se a outros pormenores, como os trajes típicos gaúchos que a equipa veste, os pratos artesanais cozidos em fornos de barro, como faziam os povos dos Andes, e as facas com um cabo feito de madeira e osso animal, embrulhadas depois em couro de vaca argentina.
Na cozinha, liderada pela chef argentina Marianela Ramadan, mostra-se a versatilidade da cozinha deste país numa carta concisa, mas eclética. A carne bovina argentina grelhada no Josper, forno a carvão, é um dos ex-líbris da casa, servida em cortes como o lombo de novilho e o entrecôte desossado Black Angus, o wagyu argentino ou a ‘entraña’, um corte fino e sem gordura junto às costelas. “O tradicional ‘asado’ é muito importante na nossa gastronomia, mas há outras coisas para explorar e provar”, explica Gabriela Balbi, gerente.
A inspiração nos sabores da Patagónia leva-nos para o entrecosto braseado de dupla cozedura, amaciado por seis horas em vinho Malbec – a casta tinta rainha na Argentina – e finalizado no Josper, acompanhado de legumes grelhados e pão de beterraba; mas também para os cogumelos da Patagónia com redução de frutos vermelhos. A tradição andina e a aposta nos cereais sentem-se em entradas como a humita, o milho cremoso com queijo, açúcar negro e cominhos; ou o tamale recheado com carne ‘charquí gaúcho’, salgada e seca; ou na salada à base de quinoa. Na carta cabem ainda as clássicas empanadas de recheio generoso – dois à escolha, carne de vaca ou quinoa e milho; moelas crocantes com limão e emulsão de salsa; medalhões de morcela em massa folhada e cebola caramelizada; ou a tradicional provoleta, para os amantes de queijo fundido.
A garrafeira visível, situada no mezanino do restaurante, soma mais de 30 referências vínicas argentinas, uma boa parte dos vinhos de altitude do norte do país. Ainda nas bebidas, importa referir a aposta em ingredientes como a erva-mate, nomeadamente na coquetelaria. Antes da despedida, vale a pena provar as panquecas de doce de leite, acompanhadas de pipocas, gelado de nata ou pistacho e migalhas de Mantecol, um doce à base de manteiga e amendoim. “É uma sobremesa que faz lembrar os domingos em família”, conta a gerente do restaurante.
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