Mito: uma casa com comida autêntica para partilhar entre amigos

No primeiro projeto de raiz do chef Pedro Braga, só têm lugar na carta os pratos que refletem a sua vida e experiência. Uma amálgama de sabores, cuidadosamente combinados, para provar no novo restaurante do Porto.

«Sempre tive o bichinho de abrir algo só meu», confessa Pedro Braga. «Cheguei a pensar que nunca iria acontecer». O encerramento do Tenra em fevereiro, o anterior projeto onde exercia funções de chef, serviu como o pretexto perfeito para uma pausa. Não ficou à espera das oportunidades e aproveitou o interregno para reorganizar ideias, até chegar à conclusão de que «tinha tudo para dar o salto». Largou as redes sociais e dedicou-se ao projeto de uma vida. Em julho, nascia o Mito.

Acumular as funções de chef com a de proprietário é algo que surge de forma natural, até porque foi no curso de gestão hoteleira que Pedro se formou. A cozinha veio depois. «Por brincadeira, desafiaram-me a experimentar a cozinha. Quando disse aos meus amigos que era isto que ia fazer, muitos deles não ficaram surpreendidos. Acharam natural.»

O tal bichinho de que Pedro fala remonta aos 12 anos de idade, quando viajou até Sintra para dar uma ajuda no café de um tio. Agradou-lhe a confusão e o contacto com os clientes. A primeira experiência mais a sério teve-a em Sines, ao lado do chef Carlos Barros, que fazia questão de acompanhar nas recorrentes idas ao mercado.

«Cheguei a passar dois dias a limpar cogumelos e, num restaurante com duas estrelas Michelin, um dia tem 16 horas», recorda o chef

Daí seguiu-se um curso de dois anos em Londres, na prestigiada escola Cordon Bleu, e trabalho árduo no Koffmann’s. Muita aprendizagem mas também muitos calos nas mãos: «Às vezes não são experiências muito agradáveis. Cheguei a passar dois dias a limpar cogumelos e, num restaurante com duas estrelas Michelin, um dia tem 16 horas». Seguiram-se Pedro Lemos, Clérigos, Reitoria e Tenra no caminho até ao Mito.

Embora não pareça, entre salpicos asiáticos e inspirações mediterrânicas, a carta tem uma linha orientadora de explicação fácil: «É um conceito muito pessoal até porque todos os pratos têm um pouco de mim, da minha experiência e das minhas viagens. Fui por onde me apeteceu, sem grandes linhas temáticas». Do seu percurso em steakhouses trouxe o ferro e o fogo, elementos imprescindíveis na secção do carvão para confecionar o costeletão maturado entre 30 a 45 dias com cerca de um quilo, o tutano com crosta de camarão e especiarias asiáticas ou os cogumelos shitake grelhados com molho yakitori.

A tendência asiática é notória e estende-se à secção dos quentes, nos pequenos pães asiáticos a vapor, os bao, recheados com caranguejo de casca mole ou polvo. Até mesmo no sriracha, o molho picante tailandês que combina com o tão português arroz de tamboril – o mesmo arroz que costuma fazer aos domingos passados em família. Sem medo de combinações improváveis, Pedro arriscou também na sobremesa que «tem dado que falar»: a rabanada de chá matcha com gelado de bacon e xarope de ácer.

«Todos os pratos têm um pouco de mim, da minha experiência e das minhas viagens. Fui por onde me apeteceu, sem grandes linhas temáticas»

O Mito descreve-se como «um restaurante para amigos» e isso traduz-se na partilha à mesa – algo que pode ser feito em quase todos os pedidos da carta. O objetivo é tornar a ida ao restaurante um experiência descontraída, descomplexada e despretensiosa. «O linguado», explica, «é servido numa travessa de inox». Assim mesmo, sem grandes requintes, tal como em casa. Esta é uma preocupação que passa para «a decoração que não é decoração», isto porque «tudo é funcional».

Das enormes vidraças da entrada espreita-se o corredor. Sofá ao longo da parede de um lado, mesas individuais do outro. Muita madeira e nas mesas, os guardanapos, que na verdade são panos de cozinha. Ao fundo, o bar, elemento essencial da visão de Pedro para o Mito: são dez os cocktails de autor, criados para os vários momentos da refeição. Também os há sem álcool e não falta o trio de clássicos: o robusto Long Island Ice Tea, a sempre fiável Margarita e o velhinho Old Fashioned.

A dar ainda os primeiros passos, o Mito de Pedro Braga é, finalmente, uma realidade que pode ser comprovada à mesa, para já apenas ao jantar. De preferência entre amigos e travessas bem distribuídas. A gravata pode ficar em casa.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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