Quando ainda não se ouvia falar muito da carne argentina, em 2015, o argentino Mauricio Ghiglione e a portuguesa Elisabete Martins abriram o Belos Aires, um restaurante onde a cozinha argentina se fundia com a portuguesa. Mas, cada vez mais, quem o visita procura pratos do país sul-americano, que ocupam neste momento cerca de 80% da carta. Um ano depois da abertura do Belos Aires, surgiu o El Argento, para dar resposta às muitas encomendas de empanadas, e os Belos Aires Apartments, na mesma rua. Estes projetos, aos quais se acrescenta o El Argento Eventos, formam hoje o grupo Belos Aires.
O que vos levou a abrir um restaurante argentino há cinco anos e como foi aceitação na altura?
Abrimos o restaurante porque sempre foi a minha meta e objetivo na vida. Trabalhei muitos anos em cozinha e era o meu sonho. Nas primeiras duas semanas não entrava ninguém, e eu morria de medo. No fim de semana dessa segunda semana bombou e nunca mais parou.
Além da especialidade da casa, a carne argentina, o que se encontra mais na carta do Belos Aires?
As pessoas podem encontrar um tipo de comida mais de casa, “da mãe”. Comida de uma dieta normal de um argentino em casa. É isso que tentamos trazer ao nosso público português, e não só. A Argentina é um país colonizado por espanhóis, mas também tivemos uma imigração muito grande de italianos, depois da Segunda Guerra Mundial. E a influência na comida, tanto espanhola como italiana, nota-se muito. Temos um ossobuco estufado sobre uma polenta cremosa, com pesto e queijo. Temos a milanesa napolitana, que é como um panado. A carne é um bocadinho mais grossa, tenrinha. É panada com panko e vai a gratinar com rodelas de tomate, mozarela e orégãos frescos, e leva um bocadinho de azeite de alho. É acompanhado com puré de abóbora assada. Apesar de se comer em Itália, isto faz parte da nossa dieta do dia-a-dia. Temos outras partes da vaca que servimos, como mollejas, as glândulas salivares da vaca, a língua, empanadas e provoleta, que se faz na Argentina.
Há algum ingrediente que venha da Argentina?
Especiarias, como um tipo de aji, que é um género de pimento picante, o pimentão doce fumado, um mix de especiarias que se chama chimichurri, carne, vinhos, queijo e dolce de leche, muito importante para as sobremesas.
As receitas são de todo o país?
As receitas são de diferentes regiões, mas na nossa carta há um ênfase no norte da Argentina, que é de onde eu sou. Eu sou da província de Misiones, que faz fronteira com o Paraguai e o Brasil, e temos uma cozinha muito mística, com muitíssimos ingredientes. Eu sou de uma zona que tem um clima sub-tropical portanto temos frutas tropicais, muita mandioca, muito milho. A diversidade de ingredientes é tão grande, que leva a que haja uma diversidade em pratos, e eu vou inserindo isso na nossa carta.
Estão a abrir vários lugares de empanadas argentinas. Quando o Belos Aires abriu já as tinha carta?
Sim, e a razão pela qual abrimos o El Argento era porque as pessoas iam ao Belos Aires fazer encomendas de empanadas para levar para casa. E, a cozinha ser tão pequena dificultava um pouco serviço. Passávamos uma terça-feira só a vender empanadas e dissemos: “Já que o público pede empanadas, vamos dar-lhe empanadas”.
Quem é o vosso público?
O turno das 19h às 21h, quase sempre são turistas, e muitos optam por opções de peixe. Temos pratos de bacalhau, robalo, polvo, portanto temos aí um bocadinho de Portugal, ainda. E também temos os aficionados da carne. A partir das 21h, é tudo português. Temos um público muito, muito forte português, já constante, com quase cinco anos. E já experimenta mais a cozinha argentina, que não é só carne.
