Ludovica Rocchi Brandão, a italiana que trocou Roma pelo bairro de Campo de Ourique

Ludovica Brandão na esplanada do seu restaurante Fiammetta, em Campo de Ourique, Lisboa. (Fotografia de Diana Quintela/GI)
Ao fim de 15 anos na indústria da Moda, Ludovica Brandão conheceu um portuense, mudou de vida e trocou Roma pelo bairro lisboeta de Campo de Ourique, onde abriu o Fiammetta. O restaurante dá continuidade a uma vocação familiar.

Sentada na esplanada do seu restaurante, com o sol a despontar entre as nuvens, Ludovica sorri, satisfeita, ao falar do que a vida em Portugal lhe trouxe de bom. Quase a comemorar os cinco anos do restaurante Fiammetta que abriu em Campo de Ourique, desfia um pouco da sua história, que começou e ainda hoje passa por Roma, até chegar aos presentes planos de expansão para o Porto. Mas já lá iremos: primeiro, há que conhecer as origens desta empresária de 38 anos.

“A minha mãe é da Toscana e mudou-se para Roma porque o meu avô tinha lá um restaurante, aberto em 1944, e foi nessa cidade que conheceu o meu pai”. O negócio chama-se Fiammetta por estar na praça homónima, mas por trás do nome há uma história “verdadeira”, revela: “A Fiammetta era uma rapariga toscana, filha de um comerciante, que se mudou para Roma e era amante do Papa Bonifácio VIII. Ele estava tão apaixonado que mandou fazer um prédio nessa praça com o nome”.

(Fotografia de Diana Quintela/GI)

Era ali que Ludovica ia almoçar nos intervalos da escola. Tudo girava em torno do restaurante. “Quando uma pessoa cresce num determinado ambiente tenta afastar-se o mais possível, então quando escolhi o curso decidi ir pela Moda. Tirei um curso de Moda e Economia na universidade, fui viver para Florença durante o mestrado e arranjei trabalho na Valentino, onde fiquei oito anos. Depois, fui trabalhar para a Tommy Hilfiger na Holanda. Fiz uma vida giríssima”, recorda.

As viagens eram constantes: “Ia a Paris dez vezes por ano, viajava para todo o mundo para acompanhar desfiles, porque era responsável pelas coleções, e trabalhava com designers e artistas. O telemóvel tocava a qualquer hora”. A páginas tantas, conheceu Manuel Brandão (um portuense a viver em Lisboa) numas férias em Ibiza, e o amor “aconteceu”, motivando a mudança para Portugal. “Foi fácil, porque Itália e Portugal são muito parecidos, no clima e nas pessoas”.

Casaram em Itália, e assim se manteve a vida de Ludovica, entre vários aeroportos. Quando a mãe adoeceu gravemente, foi tempo de “rever as prioridades” e abrandar. Entretanto, de férias na Sicília, “onde se come melhor em Itália”, visitaram um “tasco” com produtos locais que lhes deu a ideia de criar algo assim em Lisboa. “Aliás, cada vez que eu voava de Itália trazia enchidos, vinhos, queijos, pasta fresca, e até legumes na mala”, ri-se. Campo de Ourique foi uma escolha natural.

“Está perto das Amoreiras, tem imensos estrangeiros a viver, portugueses com poder de compra, é um dos poucos bairros planos e tem muito comércio de rua”, justifica. A ideia de Ludovica era ter apenas uma mercearia e um cozinheiro para servir refeições rápidas, mas por força do sucesso junto dos clientes o projeto tornou-se, rapidamente, um restaurante – premiado e elogiado na imprensa. A cozinha só trabalha com produtos italianos, da charcutaria aos vinhos e queijos.

Em Roma, são as irmãs – com formações fora da área da restauração – que gerem o negócio da família, uma trattoria com comida caseira. Ludovida reconhece que os 15 anos dedicados à indústria da Moda lhe deram a experiência necessária para gerir o restaurante. Admite que não tem menos trabalho agora, porque há sempre assuntos e imprevistos para resolver, mas confessa-se de bem com a vida. E tem razões para isso: em junho, a Fiammetta vai abrir um espaço no Porto.

(Fotografia de Diana Quintela/GI)


Três locais favoritos em Portugal


Alentejo: “Come-se lindamente, vive-se a um ritmo mais calmo e é onde posso andar a cavalo, porque sou apaixonada por equitação”.

Caniço [restaurante na Prainha, em Alvor]: “É um restaurante no meio das rochas, numa praia lindíssima. Além do peixe fresco, o risoto de lingueirão é maravilhoso”.

São Lourenço do Barrocal [Reguengos de Monsaraz]: “Foi aqui que passei o meu primeiro fim de semana pós-pandemia, com a minha família. A zona lembra-me uma aldeia perto de Roma. Foi um dos primeiros sítios onde me senti em casa”.

 

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