Estrelas Michelin (e não só) no El Corte Inglés de Lisboa

O novíssimo Gourmet Experience reúne espaços de seis chefs conceituados: os portugueses José Avillez, Henrique Sá Pessoa, Kiko Martins, o mexicano Roberto Ruiz e os espanhóis Pepe Solla e Aitor Ansorena. Mas há muito mais para descobrir no sétimo piso do El Corte Inglés de Lisboa.

A habitual lentidão dos elevadores do El Corte Inglés de Lisboa ficou, de repente, mais difícil ainda de suportar. Principalmente se o visitante estiver com fome. Isto porque no sétimo e último piso do edifício acaba de abrir o espaço Gourmet Experience, uma espécie de food court 2.0 inspirado noutros que a cadeia de centros comerciais já tinha criado nalguns dos seus espaços em Espanha.

É um espaço amplo, bem iluminado, onde se destacam imediatamente sete restaurantes de seis chefs conceituados: os portugueses José Avillez (o único com dois espaços), Henrique Sá Pessoa, Kiko Martins, o mexicano Roberto Ruiz e os espanhóis Pepe Solla e Aitor Ansorena. Não é, porém, tudo: também estão representados outros espaços bem-sucedidos de Lisboa, casos da geladaria Nannarella, da pastelaria Alcôa, da Landeau e respetivo bolo de chocolate ou o bar da Gin Lovers.

Há cerca de 1000 lugares sentados, interior e exterior — a esplanada à volta tem zonas comuns e outras exclusivas de cada restaurante — e uma particularidade no que respeita ao serviço: os clientes não andam a passear com tabuleiros, já que depois de registado os pedido, é entregue um aparelho geolocalizador que permite ao empregado encontrar facilmente o cliente e servi-lo.

Um dos espaços de José Avillez dá pe lo nome de Jacaré e tem um conceito aparentemente contraditório: carnívoro vegetariano. (fotografia: Tiago Pais)

O que se come?

Comecemos pelos restaurantes, que serão quem, à partida, atrairá maior massa humana ao local. Tasca Chic e Jacaré são os conceitos criados por José Avillez. No primeiro, como o nome indica, pratica-se uma cozinha simples, descontraída, que reinventa alguns clássicos do receituário nacional, casos do bitoque (que aqui é do lombo e traz o obrigatório ovo a cavalo, mas, também um molho de trufa “falsa mas boa”), os ovos verdes, ou a meia-desfeita de bacalhau, em que é usado o samos, a bexiga natatória do animal. Já o segundo espaço tem um conceito mais arrojado, até contraditório: carnívoro vegetariano. Mas não é contradição nenhuma: tanto se comem pratos vegetarianos, como um caril verde de grão e legumes ou um hambúrguer de quinoa e beterraba como há cortes de vaca, porco e frango prontos a saltar para a brasa, com direito às devidas guarnições.

Henrique Sá Pessoa dá a cara e o nome pelo Balcão, a sua homenagem às tascas e tabernas deste país. Também ele tem a sua versão de bitoque (a pedir um challenge ao de Avillez), com pickle caseiro, chips e ovo frito. Da carta destaque ainda para o arroz de pato de forno com enchidos de porco alentejano, o leitão confitado que tão bem trabalha (desde os tempos do primeiro Alma), o prego de choco frito ou, na secção dos crus, o tártaro de corvina. “Pensei nisto com um balcão e não como um restaurante”, afirma o chef, que enumera os adjetivos essenciais à definição do conceito: “É comida de conforto, rápida, fácil, adaptada à realidade portuguesa.” E não se pense que se vai encontrar os mesmos pratos que Sá Pessoa serve no Mercado da Ribeira. “Nenhum dos pratos é igual, esta cozinha é um pouco mais refinada”, garante.

O Balcão de Henrique Sá Pessoa, cujo design faz lembrar o pouco o do Tapisco, o seu restaurante do Príncipe Real. (fotografia: Tiago Pais)

O outro projeto de assinatura nacional é O Poke de Kiko Martins, uma nova incursão do chef pelo universo do peixe cru marinado, desta vez seguindo a receita típica do Havai. Não se espere, porém, encontrar aqui as famosas poke bowls. “As poke bowls são uma interpretação americana do poke, não têm nada de havaiano”, explica Kiko. Ao poke clássico, de atum, o chef junta versões de salmão, vieiras ou polvo, cada um com as suas características, o de polvo mais picante, o de vieiras mais refinado e o de salmão mais tropical. O ceviche puro d’A Cevicheria também não falta na ementa. “Achei que era giro trazer até para se fazer uma comparação”, justifica Kiko Martins.

No que respeita aos chefs internacionais, todos com carreira feita em Espanha, destaque, em primeiro lugar, para a cozinha marítima e galega de Pepe Solla (uma estrela Michelin no Casa Solla, em Pontevedra). Solla reproduz aqui um conceito que abriu com sucesso em Madrid e Valência, o Atlántico, uma casa de petiscos galega onde, claro, não falta o polvo, as empanadas ou os mexilhões com caril verde, uma das suas receitas mais conhecidas.

Um dos pokes que Kiko Martins vai servir no seu espaço: vieiras, beterraba, tapioca e avelãs. (fotografia: DR)

Aitor Ansorena, por seu turno, tem uma tradição familiar a respeitar: o pai Miguel foi dos pioneiros da cozinha basca em Madrid. No Imanol, juntam-se os pintxos e o asador basco às tapas madrilenas. As alcachofras fritas e os mini hambúrgueres têm muito boa fama.

Finalmente, o mexicano Roberto Ruiz do Punto MX (uma estrela Michelin em Madrid) replica em Lisboa – numa parceria com o Grupo José Avillez – o Cascabel da capital espanhola, que também faz parte de um Gourmet Experience do El Corte Inglés. Cozinha mexicana divertida, contemporânea, para desfrutar sobretudo em formato barra, ou balcão, com destaque para os inevitáveis tacos. É, também, o espaço mais barulhento e festivo de todo o Gourmet Experience, ambiente incentivado pelos próprios empregados — há um megafone que vai rodando a equipa.

Barra Cascabel, uma parceria entre o Grupo José Avillez e o chef mexicano Roberto Ruiz. (fotografia: Tiago Pais)

Os preços dos pratos variam naturalmente, mas a refeição média no espaço andará entre os 25 e os 35 euros por pessoa. Como serve em horário contínuo entre as 10h e a meia-noite (sextas e sábados até à 01h00) pode ser uma boa opção para picar qualquer coisa a meio da tarde ou até uma sobremesa pós-almoço/jantar.

E o resto?

Quanto aos outros espaços alimentares que não são de restauração, cabe dizer que o cliente fica muito bem servido de sobremesas. Além das que são oferecidas em cada restaurante, pode escolher, por exemplo, entre os doces conventuais da Alcôa, aqui com uma oferta bastante considerável e uma vitrina que rivaliza com a famosa montra da sua loja no Chiado. Por outro lado, pode optar pelos gelados artesanais italianos da Nannarella, onde é de prever que as filas possam vir a rivalizar com as da casa-mãe, em São Bento.

A doçaria conventual da Alcôa também marca presença. (fotografia: Tiago Pais)

Se nada disto resultar, rume-se à Landeau para um dos melhores, senão mesmo o melhor, bolos de chocolate de Lisboa. O bar fica a cargo da Gin Lovers que aqui não se fica por essa espirituosa: o conceito é mais generalizado, com todo o tipo de bebidas, incluindo mocktails, sumos naturais e oferta de cafetaria.

No renovado Club del Gourmet, que agora também fica no sétimo piso, encontra-se ainda uma zona de wine bar, com barra de ostras. A chocolateria Godiva, as conservas La Gondola e os chás Damann Frères completam o ramalhete de espaços com representação própria.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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