Francesinha: a sanduíche que cria paixões e discórdia

Francesinha: a sanduíche que cria paixões e discórdia
Porto, 27/ 02/ 2017 - Bufete Fase na rua de Santa Catarina. Francesinha ( Pedro Granadeiro / Global Imagens )
Onde se come, afinal, a melhor francesinha? As décadas passam e a pergunta continua sem resposta. Ou antes, com várias. Alvo de paixões, este prato de culto leva a variadas comparações e reivindicações, que de pouco ou nada servem. O importante é que cada restaurante faça bem a sua, com produtos de qualidade, explicam chefs e cozinheiros entendidos na matéria.

É sabido que não há consenso quanto à “melhor” francesinha, a sanduíche robusta, de sabor tradicionalmente picante, nascida no Porto. É um assunto de paixões, gera tanta discórdia como o futebol e, como este, tem muitos adeptos. Há quem se mantenha fiel a certos restaurantes, zelosos da sua receita e segredo; e quem queira provar as novidades e variantes. Se uns não a concebem sem carne, outros optam por francesinhas de marisco ou legumes.

A francesinha original, feita n’A Regaleira, restaurante da Baixa do Porto já encerrado, nasceu nos anos 1950, pela mão de um empregado retornado de França. Terá sido inspirada no “croque monsieur”, recorrendo aos ingredientes disponíveis: pão bijou, recheio de carnes assadas, enchidos, queijo e molho em abundância. “O que lhe dá a graça” é, justamente, esse molho com toque picante, feito com carnes, aparas e ossos de porco, tomate, cebola, cerveja e bebidas espirituosas, tudo cozinhado durante horas, diz o chef portuense Miguel Castro e Silva. Por vezes, ouve conversas sobre qual será “a” francesinha, mas não se envolve. “O português gosta de discutir estas coisas”, observa, divertido, confirmando haver um culto em torno do prato, que põe várias casas a competir entre si.

Miguel Castro e Silva. (Foto: Jorge Simão)

Uma das mais famosas é O Afonso, a casa portuense que ganhou fama mundial depois da visita feita por Anthony Bourdain, que por aqui passou em 2017 para provar a francesinha do restaurante, em gravações para a CNN. O fundador, Miguel Afonso, faz a versão tradicional, com ingredientes frescos e “de primeira qualidade”, em parte vindos da salsicharia Leandro, onde já se abastecia o pai – foi com ele que aprendeu a arte, no antigo Café Luso. Sobre a eterna discussão em torno de qual será a melhor francesinha, limita-se a dizer que “os gostos são relativos e as opiniões diversas”. “Se me perguntar onde a vou comer, em lugar nenhum. Como todos os domingos aqui, com os funcionários”, revela.

Miguel Afonso (Foto: Pedro Correia/GI)

Mais abaixo, em Cascais, Rúben Tiago chega a fazer dezenas de quilómetros para as saborear. “Não me canso”, ri-se o chef do Páteo das Francesinhas, que passou pela cozinha Michelin do Belcanto. A multiplicação de receitas tornou este prato num alvo de contestação. “Há muitas comparações. Todas as famílias do norte têm a sua própria receita e isso vai sempre causar discórdia”, diz. O regionalismo ajuda à festa. “Muitos acham que se é inventada no Porto, só pode ser boa ali. Isso é tudo relativo. Já tive a visita de um senhor de 80 anos, do norte, que se emocionou e me disse que o levei à sua infância”, conta.

Rúben Tiago e a mulher, Catarina. (Foto: Sara Matos/GI)

Também António Amorim volta atrás no tempo quando recorda a primeira receita que escreveu a cor verde numa folha, com apenas 13 anos, ensinada por uma cozinheira d’A Regaleira. O chef do restaurante Puro, que trabalhou anos a fio no Porto, reforça que o importante é focar na qualidade do produto e relativizar a competição. “Se perguntar a alguém onde se come a melhor francesinha, hoje diz-me que é aqui. Amanhã, já é ali. Depois, noutro lado. A comparação é ingrata, é um assunto relativo”, remata Amorim.

António Amorim. (Foto: Gonçalo Villaverde/GI)

 

Veja aqui restaurantes no Porto com entrega e takeaway de francesinhas

Veja aqui restaurantes em Lisboa e Cascais com entrega e takeaway de francesinhas

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend