Antes da abertura do Fiammetta, há menos de duas semanas, Ludovica Rocchi Brandão encomendou 250 quilos de queijos italianos. “Achei que iam durar pelo menos até ao Natal. Mas em cinco dias vendi praticamente tudo”, conta, para justificar algum espaço livre na montra de uma charcutaria que, ainda assim, exibe exemplares de Taleggio, Robiola, Asiago e outros queijos italianos que nem sempre se encontram facilmente por estas bandas.
O desfalque não foi caso único: muitos dos pacotes de massas e os biscoitos que enchiam as prateleiras do piso subterrâneo tiveram o mesmo destino. Por isso, boa parte destes primeiros dias do seu novo projeto tem sido passado a repor stock. Até porque, garante, os clientes continuam a entrar a bom ritmo: “Há pessoas do bairro que entraram a primeira vez na loja por curiosidade. Quando perceberam que os produtos afinal até nem são caros passaram a vir cá fazer compras todos os dias.”
O bairro a que se refere é Campo de Ourique. “Quando pensámos em abrir pensámos naquela ideia romântica do Chiado. Depois, no Príncipe Real. Mas percebemos que o nosso cliente, ou o cliente a que queremos chegar: de classe média, informado e curioso, está aqui, em Campo de Ourique.” O portuense Manuel Brandão, marido de Ludovica e responsável pela garrafeira do Fiammetta, justifica desta forma a escolha da localização do espaço. Fá-lo enquanto enche um copo de Trebbiano d’Abruzzo Cirelli, um dos muitos vinhos biológicos que tem na garrafeira. Um branco que enche a boca, untuoso, difícil de comparar a um vinho português. É de propósito. “Não quis ter aqui vinhos que fossem semelhantes aos portugueses”, afirma.
O vinho não lhe corre nas veias mas quase: o pai era enólogo e Manuel fez parte da Confraria dos Vinhos Verdes. Para chegar a uma garrafeira com cerca de 60 referências provou dez vezes esse número. “Foi um trabalho árduo. Pelo menos para o meu fígado”, brinca. O apoio da Les Caves de Pyrene, uma empresa que importa e distribuiu pequenos produtores, com grande foco nos vinhos naturais, também foi precioso.
Mas se o que se bebe no Fiammetta é importante, o que se come não é menos. A família de Ludovica tem pergaminhos no ofício: a trattoria Fiammetta (na praça romana homónima), fundada pelo seu avô em 1944, continua, ainda hoje, de portas abertas. “A minha avó tem 91 anos e ainda vai todos os dias ao restaurante. Já não cozinha, mas ainda manda”, conta a sorrir. A neta até nem queria ter aberto um restaurante, apenas uma mercearia. Mas teve de o fazer: “Vendemos muitos produtos que não são conhecidos pelos portugueses. A única forma de os dar a conhecer é servindo-os no restaurante”, esclarece.
A carta é simples e descontraída: divide-se em bruschette e crostini, ideais para servir de entrada ou acompanhar um copo de vinho, tábuas de queijos e enchidos, saladas, panini e algumas massas (entre elas rigatoni alla carbonara) que ainda não estão a fazer porque a instalação do gás está atrasada.
Neste momento conseguem servir apenas os pratos do dia, mas a situação deve ficar resolvida em breve. E isto sempre ao almoço: jantares só por marcação, para oito pessoas no mínimo, e numa vertente mais gastronómica, com menu degustação. Até porque o chef, Armando Capocci, tem escola para isso. “É muito novo, tem apenas 24 anos, mas já trabalhou em restaurantes com estrelas Michelin em Itália, Espanha e França”, revela Ludovica.
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