Eneko Atxa: “Lisboa está a transformar-se, mas sem perder a essência”

Eneko Atxa tem 45 anos e cinco estrelas Michelin no currículo. (Fotografia: DR)
O chef basco Eneko Atxa, de 42 anos e com cinco estrelas Michelin, veio a Lisboa pelas mãos do Penha Longa Resort abrir dois restaurantes no espaço do antigo Alcântara Café. Descontraído, elogia a evolução da cidade, confessa-se encantado pela maneira de ser dos portugueses e admira a frescura dos nossos produtos. E só pede que as pessoas “saiam felizes” do Eneko Lisboa e do Basque, dois conceitos que refletem aquilo que é como chef.

Evasões: Escolheu Lisboa para abrir dois restaurantes. Porquê Lisboa?
Eneko Atka: É uma cidade que eu conheço há muitos anos, desde os meus 26 anos, e acho que é uma cidade acolhedora desde o primeiro momento. Pela cidade em si, mas sobretudo pelas pessoas. [Os lisboetas] são muito bons anfitriões, melhor do que imaginam. Quando vim aqui, senti que as pessoas são amáveis, que têm orgulho do próprio país e que guardaram a essência do país. A cidade está a transformar-se, mas sem perder a sua essência e a sua alma, a sua essência arquitetónica e a maneira de transmitir isto. Porquê Lisboa? Porque é uma das cidades mais visitadas do mundo, super “trendy”, mas que não fez com que as pessoas mudassem, e eu gosto disso. Têm amor pela comida, por conversar, pela vida, o que é muito atraente.

O chef basco a passear por Lisboa. (Fotografia: DR)

Que impressões já tinha de Lisboa e do país?
Já cá tinha vindo antes, há muitos anos, para passar férias. Quando vim desci até ao Algarve, depois vim de carro pela costa até ao norte, até ao Porto. Fantástico. A maravilha das paisagens, a essência. A vossa maneira de ser e entender a vida é contagiosa, é uma maravilha. A alegria, a conversa, o descanso, o conhecimento da vossa história. Creio que os portugueses têm uma personalidade muito jovial, alegre, mas no sentido de ser uma alegria serena, de partilhar, de conversar.

Abriu o Basque e o Eneko Lisboa. O que é que os distingue?
Creio que a gastronomia é uma palavra muito ampla e dentro dela há muitas propostas distintas que podemos fazer. O Eneko Lisboa é um pouco mais sofisticado e vai ter dois menus de degustação. Depois temos outra, o Basque, que fala de uma cozinha mais informal e casual. A ideia é as pessoas irem pedindo coisas diferentes. Ostras, carnes, pescado consoante o que o mercado nos vai dando, alguns produtos de Espanha. Os dois, porém, bebem da mesma fonte: do meu território, daquilo que sou, o que gosto de fazer e a forma como entendo a gastronomia.

Como descreve a sua cozinha? Quais são as suas inspirações?
A minha inspiração são as sazonalidades, os produtos que encontro e com que gosto de trabalhar. Creio que a cozinha é parte da cultura, a gastronomia é uma linguagem universal e fala de quem somos, onde vivemos e como interpretamos a vida. Creio que a minha cozinha é um pouco como eu: segue as estações e trata de transmitir prazer.

A sala do Eneko Lisboa. (Fotografia: DR)

Como foi o processo de criar novos pratos para o Eneko Lisboa?
Tenho alguns pratos novos e adaptações de pratos ao mercado português também. Há semelhança com muitas coisas que já temos em Bilbau. Uma das entradas, os snacks, clássicos… uma mistura do meu próprio mundo. No Basque é tudo completamente novo.

De onde vêm os produtos que utiliza?
Há alguns produtos mais caraterísticos que vêm de Bilbau, mas muitos compramos aqui em Lisboa. Foi fantástico descobrir estes produtos. Vocês são uns sortudos, têm bom peixe, carne, vinho, pão. Todos os dias trabalho com mais e mais produtores locais.

A sala do Basque. (Fotografia: DR)

Como olha para a cena gastronómica em Lisboa?
Vimos com toda a humildade e todo o respeito do mundo, porque sabemos que Lisboa está num nível muito alto. Há chefs portugueses incríveis a nível nacional e internacional. Queremos fazer o melhor que sabemos e um projeto que as pessoas queiram em Portugal e com muita humildade, com ganas de trabalhar e de aprender com a cultura portuguesa, e nunca pensando que vamos ensinar nada. Pensamos aprender muito com Portugal, com as pessoas, os seus costumes, os seus produtos e tentar fazer o melhor possível.

Sente que as expetativas estão altas graças às suas estrelas Michelin?
Não estamos a pensar nessas expetativas. Queremos agradar às pessoas que venham comer tanto ao Basque como ao Eneko Lisboa e que saiam felizes depois de vir aqui. O importante é fazer com que as pessoas que vêm aqui saiam completamente felizes. Oxalá que as pessoas gostem.

 

Dois restaurantes separados por uma porta

O espaço do Alcântara Café ficou praticamente como estava, mas foi erguida uma parede para separar os restaurantes. Na decoração pontuam várias árvores e uma mesa de bilhar transformada em floresta, onde se inicia a degustação do menu do Eneko Lisboa.




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend