Há dois anos, nascia no piso superior do Centro Cultural de Carnide o restaurante É Uma Mesa, um dos projetos inclusivos de restauração fundados pela Crescer, associação sem fins lucrativos que atua na formação e reintegração social e profissional de pessoas em condições vulneráveis ou em situação de sem abrigo. A orientação é feita pelo chef Nuno Bergonse, à semelhança do que acontece nas cozinhas dos espaços lisboetas irmãos – o É Um Restaurante e o É Uma Esplanada.
Desde há precisamente um ano, esta casa de Carnide acolhe a iniciativa É Um Convite, jantares pontuais que acontecem a cada dois/três meses, com menus exclusivos que só se provam naquela noite, criados em conjunto com Bergonse e um chef convidado. Já foi assim com André Cruz (do restaurante estrelado Feitoria), Bertílio Gomes (Taberna Albricoque), Renato Bonfim (Ceia) e Kiko Martins (O Talho, A Cevicheria, O Boteco, La Dos Manos ou o mais recente LeBleu) e aconteceu na quinta edição, que decorreu esta quinta-feira, com a presença de Alexandre Silva (do estrelado Loco e do Fogo).
O arranque da noite, com os dois primeiros momentos, faz-se de homenagem ao mar, trazendo-o para ambientes de conforto, como pedem os dias mais frios que chegaram: primeiro com um tártaro de atum patudo junto de um gaspacho de amêndoa, óleo de salsa e laranja; depois com um tenro polvo agridoce na grelha, com puré de abóbora hokkaido assada, tempura de couve kale e sésamo.
Segue-se depois por uma linha de aconchego outonal, com a bochecha de vaca estufada, acompanhada de arroz de forno, fazendo aproveitamento do forno a lenha que existe no espaço. No final, o remate da refeição fica a cargo de uma tartelete de Queijo São Jorge 12 meses, emparelhada no prato com um gelado de banana e marmelada.
Mais do que uma carta criada a quatro mãos, por dois chefs, a iniciativa pretende ter o próprio input dos formandos da Crescer. “Cada um deles, comigo e com o Nuno ali na cozinha, tentou adicionar um bocadinho daquilo que sabe”, explica Alexandre Silva sobre o processo de criação partilhado. “Sinto-me muito grato de poder dar um pouco de mim a esta casa, e de partilhar um pouco do meu conhecimento. Eles [os formandos] estão todos motivados. É importante, como cozinheiro e profissional, passar mensagens positivas às pessoas que querem entrar neste ramo”, acrescenta Silva. Bergonse, cofundador do É Um Convite, adianta: “Numa sociedade fechada como a de hoje, é importante mostrar que é possível caminhar em frente”.
“Quando um evento gastronómico de excelência se junta a uma causa social, não estamos apenas a saborear pratos incríveis, estamos a dar a quem passou por situações difíceis a oportunidade de aprender, crescer e transformar as suas vidas. Acreditamos em respostas que promovem um efetivo sentido de mudança, a longo termo, e este projeto é um bom exemplo disso”, diz Américo Nave, diretor executivo da Crescer.
À semelhança do que aconteceu nas primeiras quatro edições, também um dos pratos deste menu entra agora na carta fixa do restaurante irmão É Um Restaurante, na Rua de São José. Neste caso, foi escolhido o tártaro de atum patudo.
Por norma, os jantares É Um Convite são feitos de quatro momentos – uma entrada, um prato de peixe, outro de carne e uma sobremesa – pelo preço de 40 euros/pax, ou 50 euros com vinhos. A próxima edição, cujo chef ainda não foi revelado, deverá acontecer no É Uma Mesa em fevereiro ou março. As reservas fazem-se por telefone ou email, para 924762469 e [email protected].