Crítico analisa A Cozinha por António Loureiro, de Guimarães

A sustentabilidade tornou-se um termo banal e abrange um grande colorido de significados, nas diversas áreas de atividade. No restaurante A Cozinha by António Loureiro, contudo, assume-se a vanguarda e o pioneirismo, com muito gosto.

Um prato é muito mais do que simplesmente comida, por expressão de autor que seja e por grande que seja a bondade da ligação com o vinho que o acompanha. O chef António Loureiro, após um périplo intenso e assumido à frente de cozinhas de grandes grupos hoteleiros, regressou em força à sua terra natal e em parceria com a sua mulher, Isabel, professora na Universidade do Minho, especialista em projetos e incentivos de desenvolvimento empresarial, aquartelou-se na zona histórica da cidade-berço para instalar a felicidade no Cozinha by António Loureiro. Aí, assumidamente cada prato é uma viagem feliz para o cliente e para o cozinheiro, sonho bom que marca pela harmonia e sustentabilidade.

No Cozinha, há um trabalho de fundo em curso de redução de desperdícios ao máximo, o que já mereceu por duas vezes a distinção internacional Green Key. Aberto em 2016, já segue por trilhos inovadores, numa experiência que mais do que prémios oferece uma experiência mais plena de refeição. Os restaurantes são espaços de trabalho de grande desgaste, onde há que instalar rapidamente conceitos e práticas de harmonia e bem-estar, a par do exercício inefável do serviço na sala e do gosto na cozinha. Tudo ali à nossa frente. Movimentos bem medidos bem ao modo zen, parada de delícias na mesa.

Começar bem, com a super-entrada mar do norte (9 euros), composta por lula, lingueirão, amêijoa, tobiko – ovas de peixe-voador –, bisque e mousse de coentros. Brilhante mar-terra, cavala & tomate (9 euros), biscoito de avelã, alvarinho, foie gras e gelado de tomate. E tão bom o carabineiro & manga (16 euros), produção de ourives de tártaro, bivalves, manga e coentros! Correm bem os diálogos com os bons vinhos disponíveis. Nos peixes, o chef Loureiro mostra o grande arsenal criativo-culinário que leva dentro. O rodovalho & lagostim (24 euros), combinação requintada de couve-flor, cogumelos shimeji, espargos, copita de bolota e molho de espumante, apetece repetir vezes e vezes. O bacalhau & migas (21 euros) consegue o prodígio de criar toda uma nova experiência do fiel amigo, eu senti-me como se nunca tivesse provado bacalhau, assim proposto em tandem carne-línguas com borralho de milho e chouriça de cebola, azeitona, grão, barriga de porco e puré de couve portuguesa. Nas carnes a vénia longa ao vitelão & alho negro (22 euros), apresentado com cogumelos silvestres, alho negro, aipo fumado, cevadinha e batata soufflé.

Nas doces terminações, dou a mão à palmatória no pudim abade de Priscos (9 euros), vem com gelado de lima, esponja de cardamomo, gel de laranja e terra de avelã. Mas há mais. E há o prazer espiritual da atitude com que tudo é aqui feito, confirmando a máxima de que o mais importante não é o que se faz, mas a forma como se faz. E a confiança de que um dia todos os restaurantes sejam assim.

Classificação
O espaço: 4,5
O serviço: 4
A comida: 5

A refeição ideal

Menu Tradição (47,50 euros)
Suplemento de vinhos: 22,50 euros

Cavala & tomate
Bacalhau & línguas
Porco ibérico & manjericão
Espuma de abade de Priscos e gelado de lima
Caramélia

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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