Crítica de restaurantes: Lisboa merece o JNcQUOI

(Fotografia de Gonçalo Villaverde/GI)
Recentemente aberto, o JNcQUOI, na Avenida da Liberdade, é não só uma aposta ganha como o lugar da excelência culinária em Lisboa. Mão segura do chef António Bóia, brigada de grande gabarito, carta eclética que integra o bom sabor português numa oferta cosmopolita.

Devemos parte significativa dos novos chefs de cozinha a António Bóia. Capaz de uma dedicação missionária ao assunto, governou anos a fio a equipa júnior nacional nas chamadas olimpíadas da cozinha, uma das mais difíceis provas coletivas do mundo, em que nem para dormir dá. Chefiou já várias cozinhas, de que destaco a do Rio’s, em Oeiras, por ser o posto em que mostrou a sua abordagem ao produto, composição e organização da refeição de forma inequívoca. Bóia é gigante na coordenação e é genial na criação. Tanto, que tudo o que lemos na ementa do JNcQUOI tem sabor e cheiro já, tal a transparência com que faz tudo.

O ambiente da sala do piso de entrada, onde labora o restaurante, é em tudo semelhante a uma brasserie de cozinha à vista. Até os simpáticos – e funcionais – fornos Josper estão cromaticamente integrados na lógica do cobre e ferro. O bloco de cozinha e todos os equipamentos integrados na perfeição, qualidade suprema, põem em sentido quem está por dentro do complexo universo das cozinhas profissionais. Notável.

Fator «valha-me deus» no máximo para o arroz de lavagante e garoupa e nas guloseimas finais, a grande tarte de limão merengada Ladurée

O chef costuma estar de fora do espaço coreográfico de culinária, à maneira do maestro que assegura o ritmo perfeito. Dá gosto ver António Bóia com esta distinção, à altura do seu talento. Outro grande, muito grande da nossa praça, Joaquim Sousa, dá conta da pastelaria, onde o legado Ladurée ainda pontifica, mas de quem podemos e devemos esperar o melhor. Na sala está-se bem em toda a parte e a carta é do conhecimento de todos os empregados, o que significa que os standards de serviço estão bem estabelecidos, o que com casa cheia – que é quase sempre o caso – é obra.

Nas graças de entrada há medalhões de caranguejo do Alasca (24 euros) fresquíssimos, basta juntar um vinho branco competente – e os vinhos são todos francamente competentes nesta casa. Pode parecer absurdo, mas sabe pela vida o presunto de bolota Maldonado (24 euros), de bem cortado e apresentado que é. A bisque de lavagante (18 euros), feita de forma fina e sem excessos, é passo importante para a exploração da panóplia de pratos que consta da ementa. A paletilha – pá – de borrego com arroz de forno e grelos (32 euros) chega para dois e permite que nos abasteçamos de uma excelente tranche de garoupa (26 euros) antes da empreitada carnívora.

António Bóia faz como nós pensamos. Peixe sempre vibrante no sabor, carne suculenta e a apetecer mais e mais. Fator «valha-me deus» no máximo para o arroz de lavagante e garoupa (32 euros) e nas guloseimas finais, a grande tarte de limão merengada Ladurée, e o inacreditável cheesecake com alperce, do mago Joaquim Sousa.

Gente feliz, conversa animada e solta, tudo fluido mesmo para quem tem pouco tempo. Para jurar que se volta. Há muito que Lisboa merecia uma casa assim.

Classificação
O espaço: 4,5
O serviço: 5
A comida: 4,5

A refeição ideal
(essencial ir acompanhado)
Presunto de bolota Maldonado (24 euros)
Tortilla (14 euros)
Camarão morno (22 euros)
Linguado Meunier (38 euros)
Paletilha com arroz de forno e grelos (32 euros)
Pudim do abade de Priscos (9 euros)

 

JNcQUOI
Morada: Avenida da Liberdade, 182, Lisboa
Tel.: 219369900
Horário: Das 12h00 às 00h00; domingo, até às 18h00. Não encerra.
Preço médio: 45 euros




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