Crítica de restaurante: Cordel Maneirista, em Coimbra

Está ali bem perto do Portugal dos Pequenitos, um lugar que faz jus à cidade do conhecimento e à vocação da partilha da mesa, conhecimento e talento. Paulo Queirós é o cozinheiro oficiante do Cordel Maneirista, um restaurante que não corre o risco de estar fora de moda.

Nunca sabemos as voltas que temos de dar até que tudo entre em sintonia e sintamos a vida a correr no fio e curso certos. E para os reconhecer, há invariavelmente que passar por turbulências e mudanças mais ou menos dolorosas, as escolhas obrigam a deixar para trás muitas vezes o que se tinha por certo e seguro. Paulo Queirós representa a um tempo a assunção radical do ofício de cozinheiro e o compromisso de intelectualmente se realizar e crescer. A criação do mestrado em História da Alimentação na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, iniciativa notável e conseguida de um coletivo académico liderado por Carmen Soares, atraiu o chef pelo aperfeiçoamento intelectual e cultural que isso lhe poderia dar. As mesas do Cordel Maneirista continuam a ser espaço de partilha de sabores e de tertúlia como se impõe, mas há sempre algo mais que acontece numa experiência.

A toada desta casa é petisqueira e de proximidade. Não é invulgar ver pessoas a conversar entre mesas e nenhum dia é igual ao anterior. Os petiscos são variados e geralmente consensuais, desde os rojõezinhos (4,80 euros) ao queijo de cabra frito (5,80 euros), passando pela delícia que é o mexilhão gratinado (7,80 euros) e pelo conforto dos ovos mexidos com farinheira (6,80 euros). Denominador comum na qualidade irrepreensível do produto, juntamente com intervenção minimalista na cozinha.

Avançamos para a secção sugestivamente chamada «com substância», e dispara o talento e o brilho. Um lombo de salmão com citrinos (13,20 euros), a namorar o ceviche mas diferente na forma, que maravilha. O robalo em espumante (15 euros) é vivo e fresquíssimo, na boca vence e convence. O naco com queijo da serra (15 euros) apetece até em sonhos e produz-se uma coxa de pato com frutos vermelhos (14,20 euros) sem artifícios e de grande intensidade de sabores. Por encomenda, vale a pena a investida quer no arroz de carqueja beirão (10,50 euros), disponível para o mínimo de duas pessoas, e a açorda de bacalhau com gambas (15 euros), que me teleportou para um certo restaurante onde eu pensava que tinha comido a melhor. Aqui é que passou a ser.

A evidência está criada, Coimbra tem aqui uma proposta de descoberta da essência do próprio gosto, a que há que corresponder. É a única maneira.

Classificação
O espaço: 4
O serviço: 3,5
A comida: 4,5

A refeição ideal
Rojõezinhos (4,80 euros)
Lousa de queijos (7,80 euros)
Mexilhão gratinado (7,80 euros)
Lombo de salmão com citrinos (13,20 euros)
Açorda de bacalhau com gambas (15 euros)
Coxa de pato com frutos vermelhos (14,20 euros)

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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