Crítica de Fernando Melo: Dux Taberna Urbana, Coimbra

A cidade dos estudantes merece o brilho inédito que a pulso conquistou, atraindo cozinheiros e empresários para, de uma vez por todas, se fixar no mapa epicurista do país. Lá em baixo, quase na cota do tranquilo Mondego, nasceu o Dux Taberna Urbana, de garbo petisqueiro. Bom produto, talento culinário e vontade de voltar.

Coimbra detém tradições seculares e salutares que ficam na memória e nas estórias de quem por lá passou. A praxe académica é uma delas e tudo na cidade a evoca. Os bons momentos passados, a camaradagem e a boémia estudantil deixam raízes profundas, que a infelicidade e as tragédias provocadas por incidentes recentes nunca apagarão. Dux Veteranorum é justamente o cargo máximo de um coletivo que visa manter as tradições e costumes, tal a importância que é dada aos festejos e a uma certa forma de viver a academia. Nome, por isso, bem dado aos espaços de petisco, prova e convívio que Luís Moura e seus sócios têm vindo a abrir e a disponibilizar a Coimbra. Assinatura culinária de forte intencionalidade e uma ligação inequívoca ao vinho fazem-nos vir e voltar a um deles, o Dux Taberna Urbana. Oficia na cozinha o chef Rafael Santos, que é também sócio, juntamente com Luís Moura, Luís Marquês – chef na casa mãe, Dux Petiscos e Vinhos – e Pedro Caetano.

O espaço é informal e a animação uma constante. Convém reservar por isso mesmo, assim como convém levar fome, a diversidade e copiosidade das doses merecem. A forma mais básica de explorar o conteúdo são as tábuas Dux, aconselho as de queijos, compotas e tostas (12 euros) e a de presunto pata negra (10 euros), com um primeiro copo de vinho. Merece mergulho o capítulo dos petiscos do mar, sobressai uma proposta feliz de gambas fritas com alho (8 euros), e uma versão exitosa do tão difícil bacalhau à Brás (6 euros), a mostrar destreza técnica, domínio do receituário e personalidade, já que cada um faz à sua maneira.

O chef Santos não só fez bem como também explicou como fez. Maravilha o pica-pau de atum (8 euros), sabores bem puxados nos pedaços de textura intacta. Nos petiscos da terra encontramos sugestões singelas mas tão boas que ficamos clientes. Caso das batatas fritas com maionese de alho (3 euros), servidas à maneira de legume com dip para ir mergulhando e comendo; da alheira de caça com grelos (5 euros), como não conseguimos fazer em casa; e do inovador queijo de cabra embrulhado com cebola-roxa (6,50 euros).

Admiráveis os cornetos de maçã, moscatel e foie gras (9 euros), com diversos tipos de textura e integração mais do que feliz. Talvez seja de considerar um dia em que se esteja menos glutão a salada de salmão fumado, queijo feta, tomate cherry, azeitonas e molho grego (10 euros). Ou, no extremo oposto da voracidade, o bife da vazia à Dux (12 euros), carne irrepreensível, processamento imaculado e assessoria de molho de cogumelos, batata frita e legumes salteados. Brilhante e bem ligado o risoto de camarão (12 euros), vanguardista o bife de atum com maionese de abacate (13 euros), duas opções a escrever na palma da mão à maneira de cábula. Mas com uma praxe bem feita nesta academia de prazeres, não é precisa tal manha, decora-se a matéria toda à maneira que se saboreia.

E marca-se dia para vir só pelas carnes maturada de rubio galego.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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