Crítica de Fernando Melo: Taberna do Adro, em Elvas

O crítico Fernando Melo. Fotografia: Rui Oliveira/GI
A Taberna do Adro, em Vila Fernando, tem tudo o que se espera de uma taberna. Porta franca, aconchego no estômago e trato direto dos donos. Raro e trivial, como queríamos sempre e já não há, pelo menos assim. Maria José Sousa cozinha como respira e vão-se-lhe as palavras, dizendo tudo com um sorriso.

A necessidade absoluta de transpor a fronteira, o frémito de cantarolar as modinhas espanholas pimba, a tensão silenciosa na compra de pesetas, os olhares desconfiados dos guardas dum lado e doutro, de tudo havia e se sentia em Elvas. Do lado de lá parecia haver mais animação do que do nosso lado, além de caramelos e torrão de Alicante que insistentemente se açambarcava. Nada disso é sequer sensível, tirando a evocação petisqueira dos pequenos recantos de Badajoz e dos ambientes evocativos da festa brava e da Andaluzia.

Nesta maravilha que dá para o adro da igreja de Vila Fernando está-se como em casa, pois claro, tanto que até parece fácil o que acontece à mesa. O pão (1 euro, duas pessoas) é posto na mesa, um outro apaladado com o molho da açorda alentejana de azeite, coentros e alho, é a tiborna (1,50 euros, duas pessoas). Esplêndida a paiola (2,50 euros, duas pessoas), feita em fumeiro tradicional e que bem sabe a quem chega e se senta. A farinheira frita (2,50) é maravilhosa, produto alquímico de recorte fino.

Fotografia: DR

O conduto recomendado e recorrente na refeição consiste de três queneles de migas de batata, tomate e couve-flor (4,50 euros). Brilhante a tríade de acompanhamentos, sabores e texturas assumidos e uma certa renúncia ao básico de hidratos de carbono que são as batatas e o arroz. Maria José faz um prato que sem querer se tornou sua assinatura, a galinha tostada (8 euros), que consiste na dita cozida, desfiada e depois levada à frigideira bem quente. Também a faz de tomatada (8 euros), prefere-se a versão desfiada de qualquer forma, pela novidade e afinação dos sabores. Os pezinhos de coentrada (8 euros), de caldo cuidado e partes moles devidamente tratadas e desossadas para receber o piso de coentros e alho a preceito, evoca pela gulodice os caramelos que outrora buscávamos do lado de lá. Hoje são os amigos espanhóis que aqui se sentam com o mesmo sentido.

Fotografia: DR

Há uma sericaia boa à espera dos mais bravos, com ou sem ameixa de Elvas, mas já que aqui estamos, que seja com elas. Maria José tem consigo na sala e na cozinha o marido Luís Sousa, e há cerca de seis anos o filho José, que depois de estudos superiores de hotelaria assentou praça no magnético adro. Conspiração amorosa e que torna nosso tudo em que tocamos.

A refeição ideal

Paiola fatiada (2,50 euros)
Farinheira frita (2,50 euros)
Pimentos assados (2 euros)
Tiborna (1,50 euros)
Migas de batata, tomate e couve-flor (4,50 euros)
Galinha tostada (8 euros)
Carne do alguidar (8 euros)
Sericaia (4 euros)

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

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