Crítica de Fernando Melo: restaurante Voltar ao Cais, em Vila Franca de Xira

(Fotografia: DR)
Alhandra alberga um dos templos culinários a um tempo mais puros e menos conhecidos. Foi sempre assim, e sempre assim será, o vaivém rodoviário não perdoa. Proposta de reconciliação sem saudosismos supérfluos à mesa do Voltar ao Cais, nas mãos mágicas da chef Dina Mendes, cuidados superlativos do marido Marco Ascenção.

A cultura avieira tem aqui relicário importante, nome herdado das artes da pesca e da cozinha de pescador da Praia da Vieira. Face à míngua e à fome severa, o tempo e o destino fizeram com que os bravos “ciganos do rio”, como lhes chamou Alves Redol, rumassem Tejo abaixo diariamente no sécuo XIX e depois se fixassem entre Santarém e Vila Franca de Xira. Na casa em que nos encontramos temos acesso livre a todo um inefável edifício de matriz profundamente popular. Há cerca de 15 anos, o casal Dina (49) e Marco (44) teve a feliz moção de se instalar, apostados nas mais-valias da sua terra que queriam dar a conhecer. Ele é de Alhandra, ela de Subserra – logo ali, mais a norte – e foi com emoção que mais de dez anos depois voltei a sentar-me à sua mesa.

(Fotografia: DR)

Das sugestões do dia, uma maravilhosa sopa de peixe (4,90 euros), mar e rio em abraço, fez-me logo reconciliar com o lugar e revisitar o incrível talento de Dina, sabores intensos bem casados, produto de irrepreensível qualidade. Destaque nas entradas para os peixinhos da horta com molho tártaro (6,90 euros), crocantes e livres sem sinal gordo de fritura, como se pretende e raramente se encontra. Há torricado com bacalhau assado (22,90 euros), uma vénia inteirinha para a cercana Azambuja que tem sabido manter viva esta peça patrimonial fundamental. De sonho é o polvo frito com puré de batata-doce e grelos (22,90 euros) e de ir às lágrimas – eu fui – são as enguias fritas com arroz malandrinho de tomate (21,90). Estão no zénite da tenrura e do sabor nesta altura do ano e a chef Dina domina todos os pormenores com o mesmo génio. A simples alheira de caça com arroz cremoso de grelos e ovo (15,90 euros) é a mesma que se serve no paraíso e converte a alma mais renitente.

Na prova inevitável dos pastéis de massa tenra com arroz cremoso de grelos (16,90 euros), novo momento de comoção e rendição; vontade de levar uma dúzia para casa. Há sempre peixe fresco do mar para emprestar à grelha, devolvido após supino processamento nas brasas e o tempo ajudando, na esplanada sabe pela própria vida. A doçaria tem tiara e grinalda na maçã assada em massa folhada (5,90 euros), a panacota com creme de limão, compota e gelado de frutos silvestres (7,90 euros) configura tentação. A assessoria vínica de Marco garante as melhores escolhas em cada etapa. Zarpamos sempre com a ideia fixa de voltar a este cais muito em breve.

A refeição ideal

Ovos rotos de farinheira, espinafres e maionese de alho assado (7,90 euros)
Peixinhos da horta com molho tártaro (6,90 euros)
Sopa de peixe (4,90 euros)
Enguias fritas com arroz de tomate (21,90 euros)
Bife da vazia à portuguesa (17,90 euros)
Maçã assada em massa folhada (5,90 euros)

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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