Crítica de Fernando Melo: Restaurante Vela Latina, em Lisboa

Restaurante Vela Latina (Fotografia: Carlos Manuel Martins/GI)
O restaurante Vela Latina foi fundado em 1988 com tal força e acerto que nos habituámos a dá-lo ali a bordejar o Tejo, a Torre de Belém e a doca de recreio desde sempre. O chef Benjamim Vilaças permanece impante e discreto nos fogões da casa que agora oferece uma relação assumida com o rio e o espaço exterior.

Começou novinho o chef Vilaças, e ainda hoje é ainda um jovem de 57 anos aos fogões do restaurante que juntou os irmãos Joaquim e António Machaz no projeto ribeirinho evocativo do génio marítimo português. Deram-lhe o nome do pano que mudou o Mundo ao permitir bolinar, ou seja velejar contra o vento, tem uma sala privada dedicada aos bravos Sacadura Cabral e Gago Coutinho e evoca o elemento água em quase tudo.

A par do que se mantém como dantes, há também a registar o inteiramente novo, no braço peruano (nikkei) do restaurante pode comer-se ao ar livre e por tabela conviver com a brilhante composição da artista Sandra Baía recentemente instalada num jardim onde outrora passávamos sem reparar. Salvador Machaz, filho de António gere os destinos do Vela Latina, ele próprio apaixonado pelo mar, o surf e a boa comida.

Gosta-se de imediato do muito que mudou na luz e atmosfera do restaurante, venera-se o imenso que a casa soube manter. Não há como resistir a um prato de seis ostras fresquíssimas (15 euros) mesmo enquanto nem decidimos o que vamos comer; importante é começar a bolinar. Bolinemos então, por exemplo por mais duas etapas, a salada de caranguejo com abacate (18,5 euros), trabalho brilhante de texturas, no zénite do sabor misto da proteína e do fruto, assessoria perfeita de temperos, e a terrina de foie gras com torradas e coulis de framboesa (19,5 euros, 2 pessoas).

Entra a canícula e sabe pela vida a vichyssoise de camarão (6,5 euros), ousadia fresca que se aceita e sabe bem. Suculentas e autênticas as vieiras braseadas com molho de limão e puré de aipo (24,5 euros), prato relativamente vezeiro mas que aqui conhece declinação de luxo. Há que mergulhar nos clássicos, com os maravilhosos filetes de pescada com risoto de alcachofras (23,5 euros) à cabeça pelo primor e pelas saudades que deixam logo a seguir, ou nos famosos fígados de aves em tarte de maçã (21,5 euros), ambos estão na ementa do Vela Latina desde a fundação da casa.

Em toada de redescoberta, é inesquecível a salada de lavagante e espargos (37,5 euros), a namorar no primor a alta-cozinha e as preparações de palácio. Há peixe do dia para emprestar à grelha, competente e sábia, vigiada pelo mestre Vilaças. Não saia sem debicar as farófias da casa (5,5 euros), toda uma instrução que se abraça com muito gosto. Há mar e mar, aqui há muito que bolinar.l

Vela Latina
Doca do Bom Sucesso
Lisboa
Tel. 213017118
Das 12h às 22h30. Encerra domingo ao jantar.
Preço médio: 38 euros

A refeição ideal
Burrata com tomate e alcachofras grelhadas (15,5 euros)
Carpaccio de novilho com queijo S. Jorge (12,5 euros)
Terrina de foie gras com coulis framboesas (19,5 euros, 2 pessoas)
Filetes de pescada com risoto de alcachofras (23,5 euros)
Tiramisu com Pedro Ximenez (6 euros)




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