Crítica de Fernando Melo: restaurante Reitoria, no Porto

O Reitoria traz «uma proposta bem matizada, a que todos são sensíveis».
Se está aí a evidência do advento vegetariano no universo restaurativo, existe também tendência do regresso ao elemento primordial do fogo. Frederico Azevedo permanece firme no seu posto, o Reitoria no Porto tange como poucos as cordas do universo carnívoro, numa proposta bem matizada, a que todos são sensíveis.

O nome da casa é tradução directa do lugar onde está instalado este templo das brasas e do fogo, perto da reitoria da Universidade do Porto e já conta com meia dúzia de anos, bem mais do que os que alguns vaticinavam quando abriu com a vocação carnívora que ainda hoje lhe reconhecemos. A explicação é duplamente simples. Por um lado, Frederico Azevedo estudou, absorveu e integrou conhecimentos superiores de hotelaria e turismo na Suíça, que aplicou na casa que em 2013 fundou; por outro lado, teve o génio de abrir uma casa de vocação petisqueira e carnívora ligeiramente antes do boom das grelhas, brasas e sarças que um par de anos depois começou a servir cortes e peças maturadas pelo país fora.

O fenómeno é universal, chefs e empresários repescaram a forma ancestral de processar carnes, acrescentando-lhes talento culinário e assessorias de vanguardistas de acompanhamento. A festa é a da mesa e estamos em Portugal, onde por primitivo que seja o sistema instalado, sentados e em partilha é que estamos bem. Tem dois pisos o Reitoria, no de baixo há interacção livre com o exterior, informalidade total, e serve-se tendencialmente focaccias, aqui declinadas em forma de bocadillo, massa de bôla cozida no forno, com recheios diversos. Canónica, por exemplo, a búfala (7,50 euros), tão simples quanto deliciosa, composta por tomate seco e mozzarella de búfala, regada com pesto de manjericão. E bem pensada a rosbife II (7,90 euros), que além do dito e do recorrente tomate seco leva queijo pecorino picante e rúcula, com uma cerveja ou um copo de vinho branco é refeição completa. Há uma dúzia delas, prenúncio de abundância e de regresso para provar as restantes.

Crítica de Fernando Melo: restaurante Reitoria, no Porto

(Fotografia: DR)

A grelha está sempre pronta, e é uma pena não fazer as honras às costelinhas de vitela na brasa (12 euros), assim como é crime não pedir os brilhantes ovos rotos com txistorra, cogumelos e azeite trufado (12 euros). Mas crime mesmo é não subir as escadas e fazer a experiência clássica da refeição completa. Belíssimo bife tártaro (11 euros), trabalhado à faca, só é de lamentar que não possamos nós ter algum comando no tempero, excepcional burrata fresca (9 euros) e um queijo chèvre crocante (7 euros), três dentre muitas tentações que quase nos desviam da missão que nos fez ali sentar.

O trabalho sublime de processamento das peças brilhantes de carne que são oferecidas merece até alguma poupança de energias, a contenda não é para fracos e o assunto merece. Dá para dois comilões o txuletón maturado (68 euros) – leia-se para três ou quatro pessoas -, vem de Espanha e é uma delícia, que completamos com muito boas batatas fritas (3,5), pareciam de dupla fritura dupla, vindo crocantes e coração bem quente. Nas duas visitas feitas com intervalo de quatro meses, ficou mais que patente o cuidado com standards de qualidade de produto e nível de serviço. Há mais, muito mais para nos perdermos. Aqui a carne é mesmo forte.

Fotografia: DR

 

A refeição ideal
Steakhouse, 1º piso

Queijo chèvre crocante, salda de endívias e chicória, molho rapadura (7 euros)
Tártaro de salmão, creme de abacate, redução de laranja e espuma de leite de coco (9 euros)
Txuletón maturado 28 dias grelhado na brasa (68 euros)
Batata frita palitos e esparregado cremoso (3,50 euros)
Polenta trufada e salada verde (2,50 euros)
Tarte tatin de pêra e gelado de nata (5 euros)

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

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