Crítica de Fernando Melo: Restaurante Pap’Açorda, em Lisboa

Pap'Açorda (Fotografia: Jorge Amaral/GI)
Está mais que desfeita a dúvida que se instalou quando em 2016 o Pap’Açorda se mudou para o piso superior do Mercado da Ribeira. A chef Manuela Brandão continua biónica e impante à frente das suas irrepreensíveis brigadas de cozinha e sala e a casa continua a superar-se diariamente.

Nunca houve padrões em que o quase quarentão restaurante Pap’Açorda encaixasse, foi sempre lugar de mesa e sala partilhadas e onde todos de certa forma se sentiam em casa. Vencidos que estão quatro anos sobre a temeridade de mudar do coração da boémia chique do Bairro Alto para o imenso Mercado da Ribeira, atrevi-me finalmente a visitar.

Autodidata, com 17 anos apenas a Chef Manuela deixou os altos transmontanos de Montalegre para vir para Lisboa, onde confirmou a vontade e o talento da cozinha, uma paixão que abraçou e de que nunca mais abriu mão. Curiosamente, oficia no Pap’Açorda praticamente desde a fundação da casa, com total liberdade de movimentos e seguindo apenas o seu instinto.

 

O resultado é um cardápio matizado de regionalidades que nunca fica cativo de uma região e de que o sabor é o único timoneiro. Todos os pratos são estrela, a reação é sempre familiar face ao aprumo culinário de irresistível transparência por que se pautam as criações da gigante. A canja de rabo de boi com rabanada de vinho do Porto (7 euros) evoca a festa brava e é um hino ao farto rol de pratos de tacho da grande tradição, sabores e temperos intensos, conjunto muito feliz. Genial a sopa de peixe à Pap’Açorda (6,50 euros), de ajoelhar os carapaus alimados à algarvia (7,50 euros) e incrível o inteiramente simples berbigão ao natural (9 euros).

Ainda dentro das entradas e petiscos elencados, a tríade de frituras peixinhos da horta (6,50 euros), patanisca de camarão (3,75 euros) e pastel de massa tenra (3 euros) é uma espécie de catering no paraíso. Claro que há o consagrado paté de santola com tostas (9,50 euros), de sempre e como sempre primorosamente executado. Nos peixes não abro mão dos filetes de pescada com arroz de berbigão (16,50 euros) as açordas de gambas (19 euros) e real (33 euros) – camarão e lagosta – são canónicas e santificadoras, sem truques mas incrivelmente boas.

No lado carnívoro, um louvor veemente ao lombinho de porco ibérico (17,50 euros), a rendição incondicional ao arroz de frango do campo de cabidela (16,50 euros). As doces terminações são eficazes e todas elegíveis, o que é raro. A clássica mousse de chocolate Pap’Açorda (6,50 euros) e a brilhante tarte de limão com merengue (4,50 euros) merecem sempre conferência. Certeiro e provocador Fernando Domingos na assessoria vínica, a coreografia de sala enérgica e perfeita.

 

A refeição ideal
Paté de santola com tostas (9,50 euros)
Pastel de massa tenra (3 euros)
Patanisca de camarão (3,75 euros)
Croquete de vitela (2,50 euros)
Filetes de peixe-galo com molho de laranja (23,50 euros)
Costeletas de borrego grelhadas com esparregado (32 euros)
Mousse de chocolate (6,50 euros)

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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