Crítica de Fernando Melo: restaurante Palad’Arte

crítica de Fernando Melo Palad'Arte Parede Cascais
Está-se bem neste reduto da Parede (município de Cascais), por onde é fácil passar sem notar. Brigada jovem, receituário de sempre e uma importância ao vinho que raramente se encontra. O Palad’Arte é feito do material dos castelos que outrora existiram na zona, de cujas pedras se ergueram muros e paredes indestrutíveis.

O périplo rodoviário pela estrada marginal existe desde 1940 e foi criado, imagine-se, para deleite dos que faziam o trajeto ribeirinho desde o Estoril até São João do Estoril, a velocidades módicas e em total segurança. Foi o próprio Duarte Pacheco que a mandou construir, nunca pensando que, décadas volvidas, se tornasse uma das mais sangrentas estradas do país. O separador central e o controlo apertado de velocidade permitem hoje sentir de novo o glamour dos pioneiros.

O trajeto tem um ponto de particular acalmia na zona da Parede, mesmo quando a intempérie fustiga quem passa. Bons restaurantes sobre a marginal teve sempre a Parede, fruto dessa bonança garantida, e também um certo frisson de descobridor, para quem saía de Lisboa. Aqui e ali, projetos válidos foram ponteando o interior da Parede mas quase todos durante pouco tempo.

O Palad’Arte, instalado numa rua ainda mais interior do que a Avenida da República, iniciativa do casal Lurdes e António Alves, instala o facho olímpico de novo no que é o recanto mais discreto da Riviera portuguesa. O chef Nuno Bacalhau e o seu segundo, Gonçalo Abrantes, na cozinha, o experiente Carlos Miguel na sala divertida e moderna, motivos da boémia vanguardista na parede principal e uma ementa que transpira arte. A de bem entrar, bom e bem achado presunto especial (8 euros), queijo de Azeitão (4 euros). As entradas são a arte de bem continuar, onde temos de ir devagar. Escolho três, pela timidez e território jovem ainda para os jovens cozinheiros o escabeche de perdiz (8 euros), pelo lado consensual e patrimonial a alheira com grelos e ovos (7 euros), e pelas saudades a brandade de bacalhau (7 euros), emulsão maravilhosa que está na base de glórias como o dito à conde da Guarda.

A arte de bem comer representa com dignidade e brilho pratos da tradição com toque inovador, nos quais Lurdes Alves partilha saberes e segredos seus, caso do caldo de peixe com batata-doce e banana-pão (32 euros, 2 pessoas) e do bacalhau confitado com broa (15 euros). É de ir ao javali estufado com batata confitada e microlegumes (15 euros).
Finalmente, a arte de bem ser guloso, declinada em terminações pecaminosas diversas, inefáveis as chamuças de arroz doce com sorvete de limão (6 euros), sacramental o pudim de ovos (3,50 euros).

Vinhos bem escolhidos, servidos em bons copos e bem explicados, são frequentes os jantares vínicos com a presença dos produtores, lotação esgotada, é de reservar com antecedência. Procurada pela pedra desde o tempo dos romanos, a indústria extrativa já foi marca nesta nossa Parede. Estamos bem nestas paredes que nos abraçam à mesa e nos serenam a cada passo e a cada visita. Estamos em pedra firme.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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