Publicidade Continue a leitura a seguir

Crítica de Fernando Melo ao restaurante Ocean, em Porches

Bacalhau com laranja de Silves, do restaurante Ocean. (Fotografia: DR)

Publicidade Continue a leitura a seguir

Hans Neuner nasceu em Abril de 1976 em Innsbruck, no coração do tirol austríaco, e há cerca de 15 anos mudou-se de armas e bagagens para Portugal, movido pela inquietude que tinha no coração, o cozinheiro a tomar conta do profissional que aqui e ali foi estagiando e crescendo. Kurt Gillig, director geral do hotel Vila Vita Parc estendeu em boa hora o convite ao chef Neuner para tomar conta de área de fine dining, juntos fundaram uma das mais belas e eficazes cumplicidades da história da restauração. Na construção do Menu das Ilhas, Hans Neuner levou em digressão a sua brigada de cozinha, numa viagem pelas cozinhas marítimas lusófonas,

Após uma jornada inaugural em jeito de despedida do continente e que consta de cavala marinada, tomate e manjericão, aportamos nos Açores para conferir as amêijoas De S. Jorge processadas quase ao natural, abertas pelo calor apenas. Namoramos a história dos bravos pioneiros da faina do bacalhau com uma alegoria particularmente feliz da infindável e estóica empreitada harmonizada com laranja de Silves.

Chegamos à Terceira, capital de tantos sabores e saberes açorianos quando nos é oferecida a maravilhosa alcatra à açoriana, assessorada pelo pão doce de massa sovada e uma subtil proposta de tutano. Logo nos é oferecida a evocação genial do cozido das furnas, indicando que chegámos a S. Miguel, deixamo-nos embalar pelas notas fumadas que puxariam a terra, não fora o fino e brilhante equilíbrio com enguia fumada e caviar imperial.
Mantemo-nos na ilha para conferir a delicadeza do lírio dos Açores com ananás e kombucha de chá local, leitura muito inteligente do chef Neuner de um dos mais disputados peixes da cozinha de inspiração nipónica. Festim para os olhos, há que dizê-lo, e para o palato, trabalho de ourives a transformar tudo em frescura.

 

Regressamos à Terceira para o lavagante com pasta de malagueta e ovo de codorniz, para logo a seguir ancorar no Pico, com o prato campeão da refeição. Muito difícil bater esta maravilha culinária, tripartida entre arroz de lapas, linguado legítimo de queijo São Jorge, afinação sublime entre as partes, comportamento colectivo espectacular.

Terminamos em beleza, com uma sobremesa de chocolate da roça de Diogo Vaz, em S. Tomé, seguida pelas patrimoniais queijadas Dona Amélia, terceirenses de gema. Festival de portugalidade, uma refeição para repetir muitas vezes, como quem repete a viagem ao paraíso. Por mar, claro.

A refeição ideal
Menu Rota das Ilhas (210 euros)
Harmonizações vínicas de Ricardo Rodrigues (140 euros)

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.