Crítica de Fernando Melo: restaurante Mesón Andaluz

Está quase a completar 40 anos a casa que começou num prédio na Parede e que desde então continua a encantar com os seus produtos, vinhos e receitas. No Mesón Andaluz é tudo clássico, incluindo a forma de ser moderno.

Aproxima-nos o Al Andaluz, afasta-nos a barra. Pelo meio, o projeto do Mesón Andaluz, de Ilídio Almeida, a casar insistentemente a festa do produto português com a movida alegre e petisqueira espanhola. Começou em 1979 com pratos a que ainda hoje faz as honras e laborou nos primeiros anos num primeiro andar da Parede. Era dos poucos sítios onde se comia paella valenciana, cabrito de leite assado e natillas e se bebia alguns dos melhores vinhos de Espanha. Com a evidente contrapartida portuguesa.

A fórmula era fantástica desde o início, mas de certa forma quimérica, para não dizer impossível, de levar por diante. Afinal não foi assim que a história se desenrolou, o Mesón Andaluz foi sempre lugar especial de partilha e tertúlia, com o melhor produto ibérico por base. O território outrora denominado por Al Andaluz cobre metade de Portugal e praticamente toda a Espanha, é mediterrâneo na sua essência e tem o montado, azeite e pão na base. Foi só deixar crescer e ramificar de forma orgânica para se perceber o que parecia evidente, os dois países têm muitas afinidades. Assim como foi só deixar passar os primeiros anos para perceber uma outra realidade, os portugueses não são dados a comer à barra – balcão –, é na mesa que exigem que a refeição se desenrole. Apesar das semelhanças, divergimos radicalmente na forma.

Ilídio ainda passou vários anos no Cascais Shopping, com alternâncias de espaços ocupados, e encontrou finalmente o lugar que faz justiça à fantasia que sempre alimentou, agora com o filho André, enólogo de grande talante, ao seu lado. Está na Travessa do Alecrim, na Baixa, transversal da rua com o mesmo nome. Outro movimento, outra vida, e o espaço exterior conquistado a favor dos muitos turistas e passantes que compõem os magotes da procura da novidade. Mantém a aura dos primeiros tempos e disponibiliza a famosa paella valenciana mista (38 euros, 2 pessoas), a inefável fabada asturiana (15 euros) e a obrigatória perna de cabrito lechal (21 euros), entre outras maravilhas nostálgicas.

A vida e o emprendedorismo conduziram cedo à produção própria de gado suíno, ovino e caprino, permitindo oferecer cochinillo «da nossa herdade» (21 euros) assado e chuletitas de cordero al jerez (16,50 euros) de recorte e sabor únicos, a despertar a gula. A toada petisqueira recomenda-se e nos quase quarenta anos de serviço nunca parou de evoluir. É por isso que tanto nos podemos virar para os cremosos ovos rotos com pedaços de presunto e trufa preta (7,50 euros), como para o moderno ceviche de garoupa com coulis de batata-doce (8 euros) ou as requintadas vieiras coradas servidas em puré de couve-flor (9 euros). Proibido, a propósito, deixar passar a perdiz escabechada (7,50 euros). Fica quase tudo por dizer, mais ainda por provar e não há tempo a perder. Parabéns ao Mesón Andaluz. Parabéns Espanha. Parabéns Portugal.

Classificação
O espaço: 4
O serviço: 4
A comida: 4,5

A refeição ideal
Atum em duas texturas (8 euros)
Puntillitas com aioli (7,50 euros)
Canja de perdiz brava em crosta de massa folhada (9,50 euros)
Chuletitas de cordero al jerez sobre legumes e batata gratinada (16,50 euros)

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

Leia também:

Comer à grande e à espanhola em Lisboa? Por supuesto, tío
Nova petiscaria em Lisboa tem 59 tapas para comer todo o dia
Poké House. Um restaurante de praia em pleno Chiado




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend