Crítica de Fernando Melo: Quinta do Quetzal, Vidigueira

Desde o primeiro momento que o empresário holandês Cees de Bruin determinou que o território da Quinta do Quetzal seria um espaço vivo de visita, experimentação e vanguarda.

O prazer da partilha, a criação de pequenos grandes paraísos aqui e ali tem acontecido pela mão de personalidades notáveis que se apaixonaram por Portugal, pelas suas terras, gentes e pelo tanto que é único no mundo. Cees de Bruin tem o toque de Midas, construiu a sua vida a contribuir para a construção de várias outras, através de private equity e outros mecanismos financeiros distribuídos pelo globo. Oscila entre a sétima e a oitava maior fortuna líquida da Holanda, o que já dá uma ideia da sua importância global. Juntamente com a sua mulher, Inge, foi acumulando uma coleção de arte contemporânea que sempre quis um dia instalar para que se pudesse visitar e conhecer.

Com uma amizade de longo prazo com Reto Jörg decidiu montar a Quinta do Quetzal, perto de Vila de Frades. Vinha, vinhos, depois um centro de exposições, e finalmente o restaurante. Reto delegou em Rui Reguinga a enologia e em Pedro Mendes a montagem e supervisão da cozinha do restaurante. João Mourato é o chef residente, que com Norberto Fialho na sala faz dupla imbatível. Estamos numa grande frente vidrada voltada para a vinha quando estamos à mesa, já passámos pela exposição de algumas das peças do acervo artístico, e deixamo-nos guiar pelo acaso. Para meu espanto, dou com uma carta cheia de novidades, claro que o chef Pedro Mendes – o homem da bolota e do mar – desenvolveu com o discípulo que trouxe do Marmòris, em Vila Viçosa, um cardápio original.

Nas entradas, inesquecíveis os peixinhos da horta com mostarda de pimento (4 euros) e absolutamente inesperado o brûlée de cogumelos, queijo Serpa, uvada de alicante bouschet e presunto crocante (6,50 euros). A plataforma em que nos encontramos é afinal nave espacial, viajamos no espaço-tempo sem esforço. A tábua de carnes curadas (10 euros) é do outro mundo, harmonizada – digo eu – com um branco sem madeira, primorosamente servida pelo oficiante Fialho. Nos peixes há duas viagens que recomendo, pelo que de Mediterrâneo e Sul comportam. O xerém de tomate e coentros com cação frito (13,50 euros) é de encomendar a alma, e o polvo assado com puré de batata-doce, salada de pimentos assados e molho romesco (15 euros) configura tentação. Evanescências do Barrocal algarvio, onde Mendes teve alguns dos seus principais esclarecimentos culinários. Divino o cachaço de porco ibérico com puré de abóbora e batata assada (14,50 euros), viciante do princípio ao fim, no todo como no detalhe.

Nas terminações, é belíssimo o pão de ló de amêndoa (4 euros), delícia o delírio de Vila de Frades (3,50 euros) e é uma pena que a extraordinária sericaia venha com tantos acólitos que em nada a servem. Tenho esperança que seja aqui que de uma vez por todas se faça justiça a uma das mais notáveis obras da nossa doçaria. Vou voltar muitas vezes. Parabéns, Quinta do Quetzal.

Classificação
O espaço: 4,5
O serviço: 4
A comida: 4

A refeição ideal
Croquetes de farinheira com maionese de salsa (3,50 euros)
Peixinhos da horta com mostarda de pimento (4 euros)
Camarão frito com alho e piripiri da nossa horta (10 euros)
Xerém de tomate e coentros com cação frito (13,50 euros)
Bife de novilho do Alentejo grelhado, creme de espinafres, batata assada e cogumelos salteados (16 euros)
Pão de ló de amêndoa (4 euros)

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

Leia também:

Quinta do Quetzal: vinho, mesa e arte na Vidigueira
Crítica: vinhos Quinta do Quetzal para partilhar no verão
Alentejo: «um dos melhores destinos para o enoturismo»




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend