Crítica de Fernando Melo: O Velho Eurico, em Lisboa

O Velho Eurico, Lisboa. (Fotografias: DR e Gerardo Santos/GI)
Serviço informal, relação direta com os donos e boa comida simples são os três grandes factores distintivos de uma tasca em relação aos restaurantes estruturados. Acontece naturalmente a ligação imediata entre desconhecidos e uma certa sensação de pertença. O Velho Eurico de José Paulo Rocha é o pleno da nova ordem.

A semente restaurativa está incrustada na alma de José Paulo Rocha desde muito antes de vir ao mundo. Os seus pais vieram dos altos minhotos para oficiar em Lisboa, onde veio a nascer. Não espanta por isso que assentasse praça na Mouraria nem que tivesse procurado formação superior, menos ainda que tivesse arregimentado a brigada de luxo de que soube rodear-se para a empreitada. Fábio Algarvio, colega de carteira de José Paulo nos tempos da escola de hotelaria de Lisboa, foi a primeira força, a que logo se juntaram João Caro, da mesma escola, e João Menino, este regressado de Roterdão. São ao todo 12 os bravos que diariamente abrem as portas do Eurico, como carinhosamente chamam à casa. Todos cozinham, todos servem e todos conhecem bem o cardápio.

Intactos, portanto, os fundamentos da tasca, avancemos para a comida. Ainda lá fora, esperando vaga dentro para sentar, vieram deliciosos e crocantes pastéis de massa tenra (4,50 euros). O pratinho de coelho (8 euros) vem em modo de provocação e dá nobreza ao saltitão, sabores e texturas irrepreensíveis. A salsicha com couve lombarda (11 euros) transcende toda a imaginação e apresenta-se com o perfil perfeito de que todos gostaríamos de ser capazes. Era bom era… A punheta de bacalhau (9 euros) vem com uma cebola cortada muito fino na mandolina, jogo vinagre-azeite de incrível bom senso, foi só por vergonha que não repeti.

O restaurante abriu no verão de 2019. (Fotografia de Gerardo Santos/GI)

É viciante a cabeça de porco (11 euros), que há que não confundir com o vezeiro preparado prensado da dita migada; aqui é de grande arte e única. Encerrei com a maravilhosa lula com manteiga e limão (15 euros). Assessoria garantida até metade por vinho verde tinto das origens altaneiras do sempre jovem chef José Paulo Rocha, servido em malga como lá na terra e como sempre, a partir de certa altura passei com proveito à exploração de um duriense de boa cepa. Ganhou-se em complexidade; a comida pedia e merecia.

Picardias diversas, entradas e saídas em contínuo, ainda muita gente lá fora, muitos turistas mas comensais alfacinhas bem representados. Sobretudo gente feliz e satisfeita, todos nós figurantes deste caos muito bem temperado. Está aqui a tasca que todo o restaurador devia frequentar, escola de gente de alta escola. Claro que fica na memória. Claro que se volta.

A refeição ideal:
Pastel de massa tenra (4,50 euros)
Coelho assado (8 euros)
Salsicha com couve lombarda (11 euros)
Punheta de bacalhau (9 euros)
Cabeça de porco (11 euros)
Lula assada com manteiga e limão (15 euros)

Classificação:
Sítio – 4.5/5
Serviço – 4/5
Comida – 4.5/5

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




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