Crítica de Fernando Melo: Flor de Sal, Entroncamento

Flor de Sal Entroncamento crítica Fernando Melo
Margarida e Rui Honorato têm o Flor de Sal, apostaram no inteiramente simples e instalaram os corações no pequeno reduto onde todos estão perto de todos à mesa e por onde passa em cortejo o melhor de Portugal.

Se fosse ao pé do mar seria porto de abrigo, esta concha acolhedora e de marcação familiar de que é muito difícil sair. Sintoniza-se à primeira e depois da primeira experiência é uma espécie de éter a que se volta com saudade. Tem tudo o que precisamos para viver, o restaurante Flor de Sal, incrustado num bairro residencial do Entroncamento: calor humano, tranquilidade, produto e uma cozinha sem enfeites nem disfarces. Vai por isso para a chef Margarida Honorato a vénia, no espaço do seu fogo é que acontece o principal. Logo a seguir, o seu marido Rui Honorato, o homem que está em festa há mais de 20 anos, aqui desde 2012. Magnético no contacto, psicólogo perfeito na inquirição sem palavras a todos os que se aproximam do espaço sem ocos que gere com coreografia perfeita de sala, cada mesa é barcarola mágica que primeiro flutua e depois voa.

Vem o tablet – ardósia carinhosamente rebatizada – e olhamos para os percursos possíveis da refeição. A tentação petisqueira arrubra-se, quando não se chega com fome ela aparece sem pedir licença. Mergulha-se em jeito de perdição no elenco pré-alinhado e vem uma tábua de entradas (3 euros) de que constam enchidos grelhados de Vila de Rei, melão ribatejano com presunto, pasta de camarão e azeitonas, interação feliz com com o cesto de pão feito ali (1,50 euros), dormente e morno. Há um queijo atabafado de cabra (4 euros) delicioso e um Azeitão (6 euros), e é assim que se entra bem em Portugal, onde a primeira sessão configura já refeição.

Numa lousa ao fundo da sala, escritas a giz, lêem-se as determinações da chef Margarida, que são caminho redentor. Entre as graças nos peixes, conta-se um belíssimo lombo de bacalhau confitado em azeite de pimento amarelo com batata-doce (16 euros). Cozinhado com respeito sacramental pela integridade da goma e textura, vem a lascar cheio de sabor e vontade de se entregar. Também se faz com crumble de broa e azeites na telha (25 euros, duas pessoas), delicioso. Sai original e bem distante das apresentações vezeiras o lombo de salmão braseado em azeite de frutos silvestres (13 euros), assessorado por batatinhas rústicas e couve salteada, fica na lista da próxima visita. Brilhante e de confeção imaculada o risoto de tomate cherry com que vem o robalo da costa (16 euros), fresquíssimo e quase a fazer esquecer o capítulo carnívoro. No entanto, agigantamo-nos e tomamos de empreitada a missão carne com espírito missionário, para dar com o elevado nível técnico do bife à cortador com ovo a baixa temperatura em areia de farinheira (14,50 euros) e com o carinho posto na perna de cordeiro assada no forno à moda da serra d’Aire (15 euros).

Extensa e copiosa é a oferta de sobremesas, onde se sente a chef como peixe na água e nós, que estamos quase a levantar voo, ainda mergulhamos no incrível brownie de noz com gelado de ovos moles (4 euros). Agora sim, prontos para pairar a bordo da barcarola anunciada. Grande casa, parabéns.

Classificação
O espaço: 3,5
O serviço: 4,5
A comida: 4,5

A refeição ideal
Tábua de entradas (3 euros)
Queijo de cabra atabafado (4 euros)
Cesto de pão quente (1,50 euros)
Lombo de bacalhau confitado com azeite de pimento amarelo com batata-doce (16 euros)
Tornedó de vitela com emulsão de queijo e presunto crocante com ovo a baixa temperatura (16 euros)
Brownie de noz com gelado de ovos moles (4 euros)

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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