Crítica ao restaurante DOP: Rui Paula, o mestre da alegria portuguesa

Crítica ao restaurante DOP: Rui Paula, o mestre da alegria portuguesa
(Leonel de Castro/GI)
Quando o chef Rui Paula se instalou no Porto, não faltaram vozes adversas mas ele teve razão na insistência em dar à Invicta um lugar de excelência e nasceu o DOP. Largo de São Domingos e Rua das Flores ganharam desde então luz e força. Nesta torrente frágil de retoma, que decidiu o chef? Reabrir ainda com mais convicção.

Força de vontade inabalável, convicção e coração, Rui Paula é um concentrado de energia e talento que por artes que desconheço verte sistematicamente em espaços e fórmulas de leitura universal. O título deste artigo é uma clara evocação da obra de Teixeira de Pascoaes “Arte de ser português” e consagra a forma telúrica como o chef que detém duas estrelas Michelin no seu Casa de Chá da Boa Nova, Matosinhos, literalmente contamina todos à sua volta com o seu entusiasmo e espírito positivo.

Escreveu Pascoaes que existir não é pensar, é ser lembrado, achei mais que oportuno entrar no restaurante DOP acabado de reabrir. Silêncio desértico triste pelas ruas ainda há apenas quatro meses frenéticas, e claro que encontrei ali o mestre da alegria portuguesa, como que a reagir em contraponto. Este restaurante é porventura o menos compreendido de todos os seus e no entanto é o mais eclético e profundo em termos conceptuais.

O chef Rui Paula. (Leonel de Castro/Gl)

O bife tártaro (18 euros) denuncia o risco que Rui Paula venera. Picado à faca, temperado com intensidade calculada, não há uma garfada igual à outra e a viagem começa com este padrão lançado. O carpaccio de polvo com romã (15 euros) estimula o palato no sentido táctil de que é capaz e conquista-nos por dentro. E o genial carabineiro, linguini e cogumelos silvestres (26 euros) é o fator valha-me deus da refeição. Isto no capítulo entradeiro. Mergulhamos no mar logo ali, para o saudável batismo salino da corvina, esmagada de batata e molho holandês com pinhões (28 euros), prato cheio de boas surpresas, equilíbrio sublime entre os componentes.

Não conhecia esta criação do chef, provei-a pela primeira vez emocionado, o pensamento fugiu-me para a dura realidade por que a restauração no segmento superior está a passar, é grande a alma de quem cozinha assim, deve ser bom trabalhar aqui. Regresso ao fio da refeição, vem a bochecha de vitela com gnocchis, cogumelos e feijão-verde (28 euros), de novo uma proposta forte em texturas e sabores intensos muito assumidos, trabalhados à maneira do ourives. Termino com a São Thomé (17 euros) um doce divertimento de lima, maracujá e pimenta rosa. Aprendi muito com a mesa de Rui Paula, nas suas muitas instâncias, é fundador o seu trabalho, brilhantes as suas equipas, e única a sua alegria. De que tanto precisamos.

O restaurante faz 10 anos. (Artur Machado/GI)

 

A refeição ideal:
Lula recheada (18 euros)
Vieiras e cenoura (19 euros)
Robalo, mexilhão e couve-flor (27 euros)
Cachaço de porco ibérico, aipo e molho de cidra (28 euros)
A rabanada (16 euros)

 

Avaliação:
Sítio *****
Serviço *****
Comida *****

DOP
Palácio das Artes. Largo S. Domingos, 18. Porto.
Tel. 222 014 313
12:30-15:00; 19:00-23:00
Fecha: Domingo e jantar de segunda
Preço médio: 40 euros




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