Crítica: A Ver Tavira para saborear excelência

Luís Brito está imparável no seu reduto. O restaurante A Ver Tavira, em que alguns mais antigos esperam ver a casa de outrora quando lá vão, é hoje plataforma galática, donde se vê tudo melhor e para onde agora se peregrina em busca de novidade. É de ir.

Com um percurso profissional original, o chef Luís Brito estabeleceu na sua vida a ideia fixa de sair e sempre o destino cuidadosamente se encarregou de o devolver. Alentejano de Almodôvar, bateu-lhe cedo a vocação da cozinha, e aos 20 anos estava a entregar-se à arte, logo a seguir ao serviço militar.

Sem padrinhos nem protetores, o francamente jovem cozinheiro fez o que ainda hoje faria: enveredou por caminho não usado sem olhar para trás. Fixou-se no Algarve como se fosse óbvio, e a formação da escola de hotelaria fez dele formador. Primeira revelação, a sua boa estrela indicou-lhe a via da liderança, marca com que se nasce e a poucos é dado realizar. Os seus olhos viajam muito e a face reluz quando fala da Escola de Hotelaria de Faro, é âncora segura. Trabalhou quase sempre em hotéis, onde a responsabilidade é grande e a tolerância a falhas pouca ou nenhuma. Pode vir daí o grande entendimento que tem com Leonel Pereira, do São Gabriel, amigo de longa data cujo convívio não dispensa. O italiano Massimo Bottura é ídolo, o “nosso” Dieter Koschina (Vila Joya) e alguns outros referências, a construção do conhecimento é para o chef Brito imperativo de consciência.

Algum limiar atingiu para decidir tomar conta há cerca de quatro anos do A Ver Tavira. Pegou discretamente nas rédeas e sem nunca sequer ter fechado assumiu tudo. Estabeleceu-se ali, para ficar. Cláudia Abrantes, a sua mulher, oficia como sommelier e tirou o curso de sommelier na escola de Faro ao mesmo tempo que ali trabalhava. Casal sem dúvida dado ao trabalho. Há três menus de degustação disponíveis: 4 momentos (45 euros, 20 euros pairing vínico), 5 momentos (55 euros, pairing 25 euros) e 7 momentos (75 euros, pairing 35 euros).

O serviço à carta está disponível, como é claro, e é aí que dançam algumas das glórias de Luís Brito. Nas entradas está a um tempo o discurso mar-terra e o pensamento culinário vanguardista que se sente a toda a hora. A cavala (12,5 euros), entrada que integra a dita fumada, cremoso de escabeche, ouriço, pepino e gin e o carabineiro (22 euros), com puré de salsifis e toucinho de porco preto, servem de forma brilhante para ilustrar esse carisma. As vieiras (18,5 euros) com chouriço, ervilhas, míscaros e alvarinho elevam a fasquia muito acima do óbvio, altitudes a que muito poucos é dado navegar. Ainda não consigo exprimir devidamente o que senti com o bacalhau (25 euros), migas finas e óleo de coentros, apetece-me dizer que foi o mais excecional bacalhau que comi na vida. Ainda marcou o pato barbeiro (25,5 euros), que é peito de pato, cevadinha e beterraba, grande domínio de texturas e rendimento de sabor.

O caminho de volta ao hotel é curto e suave, Tavira é pacata e pequena, mas deu tempo para prometer um dia passar férias ali mesmo, até conhecer e provar tudo. Vê-se Tavira, vislumbra-se as estrelas.


Classificação

O espaço: 4,5
O serviço: 4
A comida: 4,5


A refeição ideal

Menu 7 momentos (75 euros) com pairing vínico (35 euros)

Cavala fumada, cremoso de escabeche, ouriço-do-mar, pepino e gin
Foie-gras de ganso, gelado de framboesa
Bacalhau em tempura, migas finas e óleo de coentros
Pargo de linha,algas e caldo fumado
Lombo de vaca galega e guisadinho de cogumelos
Pré-sobremesa
Financier de chocolate negro, telha, gelado e pistácio

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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