A popular rocha de Arouca, a lousa, dá forma às letras à entrada onde se lê Casa Testinha. Esta é a mais tradicional e provavelmente a mais antiga tasca da vila. Conta 83 anos sem nunca ter saído das mãos da mesma família, já lá vão quatro gerações. Diz o povo, e bem, que quem vai a Arouca e não passa pela Casa Testinha não vai verdadeiramente a Arouca.
As “virgens” e o frango frito enchem as mesas de um espaço que se torna pequeno ao almoço e ao fim da tarde para merendar depois de um dia de trabalho. Chamam-se “virgens” as sandes de mortadela que, a par das moelas, são o petisco mais popular da casa. Segue-se um famoso frango frito, servido em dose generosa numa travessa de barro, que não pára de sair para fora.
Há quem o vá buscar, a peso, do Porto, Vila Nova de Gaia ou Santa Maria da Feira. Uma balança antiga ajuda na tarefa. Mas os que escolhem o serviço takeaway não provam o vinho branco traçado com gasosa que está guardado num garrafão e que é servido em canecas de vidro.
A vitela e as febras também entram no menu, tão conhecido dos clientes habituais, que já o sabem de cor. Tal como sabem o prato do dia, que tanto pode ser bacalhau, como feijoada, panados ou rojões. Na Casa Testinha, come-se à mesa e ao balcão. Uma dose pode chegar, no máximo, aos dez euros. Há uma justificação: “Antes quero muitas notas de cinco do que poucas de dez”, assinala Carlos Alberto.
Aos 74 anos, Carlos lembra que nasceu ali. “Isto era dos meus avós, depois passou para os meus pais, o meu tio”, diz, apontando enquanto as fotografias das antigas gerações que estão na parede junto ao balcão.
Chegou a estar à frente da tasca da família com os irmãos, agora está com o filho José Carlos. Com a nova geração, veio a remodelação do espaço. O piso de cima compensa o espaço familiar do piso de baixo. No topo das escadas, há uma imagem projetada na parede dos passadiços do Paiva, amparando as selfies. E logo depois um quadro com uma fotografia noturna da Praça Brandão de Vasconcelos de Arouca .
A pedra nas paredes e os pipos, onde antigamente guardavam o vinho, são a imagem de marca que o filho não quis largar. Na cozinha está Emília Brandão. “É minha esposa há 46 anos”, atira ele. Não quis largar o estrugido nem o avental, mas contou que “o segredo vem de trás, dos velhotes”. Emília aprendeu com a mãe de Carlos Alberto. “Comecei aqui tinha 20 anos. Sabia pouco cozinhar, quando cheguei é que comecei a sério. Via a preparar e fazia igual. Adoro esta vida. Estou aqui desde as 7.30 horas até às nove da noite”, confessa ela.
Num negócio de família, os cabelos brancos de Carlos Alberto não o deixam mentir. “Nunca nos chateamos uns com os outros. Não sabemos o que isso é. Está tudo em família há 83 anos, é muito tempo”. A humildade de quem sabe o nome de todos os clientes já lhe valeu que alguns se juntassem para fundar, ali, em 2014, a Real Confraria do Frango Frito.
As virgens
Levam dezenas de clientes à Casa Testinha. São sandes de mortadela e custam apenas 0,50 cêntimos. Mas há um segredo: a mortadela é passada no molho do frango para ganhar um paladar picante.
O MENU
Diária: 6 euros (Inclui prato, sopa, bebida e café)
Petiscos: Frango frito, moelas, virgens (pão com mortadela), febras, vitela
Pratos habituais: bacalhau, feijoada, panados e rojões