Há 15 anos, Kiko Martins regressou de uma viagem à volta do mundo com a ideia de abrir um restaurante pequeno, com pratos inspirados nos países que visitara com a mulher, Maria Bravo. “Nós chegámos no pico da crise. Quando perguntei a amigos meus da restauração se era boa altura abrir um negócio disseram-me que o melhor era apostar no Brasil ou em Angola”, recorda o chef num almoço de imprensa.
“Portugal estava na mó de baixo, mas eu queria abrir um restaurante cá, porque quando viajamos ficamos com ainda mais saudades do nosso país e damos ainda mais valor ao que temos. Como gosto imenso de andar a pé, comecei a reparar que o setor dos talhos estava estagnado: eram sítios sem estética, com alguns cortes que as pessoas depois não sabiam fazer em casa e sem produtos complementares”, diz.
A “paranoia” de montar um talho levou Kiko Martins a estagiar, durante um mês, num talho clássico no bairro de Alvalade, que era um dos seus fornecedores. “Aprendi imenso sobre carne”, diz o chef, acrescentando que na altura procurava montar um projeto pessoal com uma veia autoral e de evolução do tratamento daquela proteína – mais do que ter um talho com bons cortes e alguns grelhados, “o que seria um pouco redutor para um chef”.
O atual espaço d’ O Talho, que encontrou “um pouco por acaso” na zona residencial e de negócios próxima do El Corte Inglês e da Fundação Calouste Gulbenkian, teve muito da sua mão e dedicação, e mudou muito ao longo da última década. O chef recorda-se, inclusive, de percorrer o país de carro em busca de moinhos de carne (eram 54, precisamente) para a decoração, e de passar horas a colocar betume nas paredes para colar azulejos.
Uma década volvida, o espaço conserva a mesma configuração, com arcas frigoríficas à entrada onde se vendem carnes e acompanhamentos já preparados, carnes maturadas, diferentes cortes e charcutaria; uma parede com acompanhamentos e bebidas como batatas fritas, esparregado, gin, vinhos e outros produtos; um balcão de talho propriamente dito (Butcher Shop); e a sala do restaurante, com um balcão ao fundo.
No almoço de imprensa, Kiko Martins propôs uma viagem à mesa pelos pratos marcantes dos 10 anos d’ O Talho: croquetes de cozido à portuguesa (feito com as carnes do cozido, hortelã e maionese de chouriço), tártaro de novilho (cortado à faca e finalizado na mesma com vodka) e o borrego Tandoori. O mais recente prato do menu é o bife Wellington, um lombo de novilho do Uruguai envolvido em cogumelos e presunto Pata Negra e vestido com uma massa folhada estaladiça.
Para celebrar os 10 anos do seu primeiro restaurante, Kiko Martins vai convidar chefs amigos para cozinhar com ele, como Henrique Sá Pessoa, Rui Paula e Vítor Sobral, a par de outros chefs estrangeiros, em jantares a anunciar ao longo deste ano. Estão também previstas outras ações comemorativas, como um workshop com o chef (o prémio será uma oferta para três pessoas); um desafio de cozinha online; um quiz ao chef online; e um desafio online com produtos do talho.
Além d’ O Talho, Kiko Martins gere o Las dos Manos – o mais recente, mexicano de fusão japonesa -, o Poké – no Gourmet Experience do El Corte Inglés -, O Boteco, no Largo de Camões e a Cevicheria, no Príncipe Real.
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