Está a criar um «bairro do Chakall», à semelhança de José Avillez no Chiado?
Não, não gosto de zonas muito turísticas, aqui 99% do nosso cliente é português. Gosto de ir sair e de ter vários tipos de restauração por onde escolher. Já tinha o El Bulo, que estava mais direcionado para carnes argentinas, e sentia falta de uma pizaria, abri então o Refeitório do Senhor Abel e o Heterónimo Baar, onde eram os refeitórios e a taberna da antiga sociedade de vinhos. Continuo a abrir aqui espaços porque acho que esta zona da cidade é ótima. Vou abrir uma pastelaria biológica até junho, aqui ao lado e, este ano, quero ainda abrir outras duas coisas nesta zona da cidade.
O que o atraiu nesta zona da cidade, quando abriu o El Bulo em 2016?
Sempre achei que esta era uma das melhores áreas de Lisboa, mas que nunca foi bem aproveitada. Eu moro no Alto de São João e acho que, estrategicamente, Marvila é espetacular, tem acessos incríveis, fica perto do aeroporto, do acesso às duas pontes e do centro. Acho que é muito melhor do que a zona ocidental.
Quando se apercebeu de que a zona estava a tornar-se mais popular?
Percebia-se que havia uma dinâmica diferente, mas não vim pelas tendências, vim pelo meu instinto. Há vinte anos, durante a Expo ‘98, vim aqui fazer um evento e disse que um dia ia abrir um negócio nestes armazéns da cidade. Quando soube que era possível alugar, avancei.
Mas é diferente gostar apenas de uma área ou decidir abrir ali três projetos de restauração.
No início foi difícil, disseram que estava um pouco louco. Quando cheguei havia vários restaurantes já, mas junto a estes armazéns [Abel Pereira da Fonseca] era um deserto. Estiveram quarenta anos degradados. Eu queria algo diferente e um espaço grande no centro de Lisboa é uma fortuna.
O bairro vai escapar ao turismo em massa?
Penso que este é um daqueles bairros, como existe em Miami e Nova Iorque, que são mais para as pessoas do país e são só visitados por turistas que querem ir onde vão os «locais». Acho que Marvila é um bairro de lazer perfeito, não tem vizinhos, pode-se fazer o barulho que se quiser e à noite ainda é fácil estacionar.
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