Há quatro décadas, a Rua Heróis de França, em Matosinhos, junto à lota, nada tinha a ver com o que é hoje. Não havia grelhadores na rua a assar peixe todos os dias, nem, tampouco, turistas por ali passavam. Mas uma das tasquinhas que ali existia, tornou-se, com o tempo, num dos restaurantes de peixe mais procurados na zona: a Casa Serrão.
“O meu pai jogou futebol muitos anos no Leixões e quando terminou a carreira aos 35 anos, tomou conta de uma tasquinha aqui da rua”, conta Justiniano Serrão, filho dos fundadores do espaço Fernanda e João Serrão, e agora à frente do negócio. Foi em 1980 que o casal investiu para criar na rua um local que se tornou ponto de encontro dos habitantes da zona. Além de tasquinha que serviam diversos petiscos, era também mercearia. “Não havia almoços nem jantares, só petiscos. As pessoas iam lá tomar café depois do almoço e beber um copo ao final da tarde”, lembra Justiniano, na altura uma criança.
Para responder às necessidades da população, começaram a servir prato do dia, principalmente para os trabalhadores de fábricas. Um dia, um peixe fresco e um grelhador mudaram tudo, tanto para eles, como para a própria rua. Justiniano conta que o seu tio Macário, pescador, levou um peixe para o pai almoçar. “Nesse dia ele ligou o fogareiro cá fora para fazer o almoço e as pessoas começaram a questionar se faziam peixe na brasa”. “Não, mas quer provar uma sardinha?”, começaram a responder. “A minha mãe percebeu a oportunidade de fazer outro tipo de negócio e assim começaram a fazer o peixe e a palavra foi passando”, em pouco tempo, o sítio era já pequeno para tantos clientes.
“Havia filas à porta de mais de uma hora de espera. Então, o meu pai adquiriu um antigo armazém de congelados para montar aqui o restaurante”, na mesma rua, algumas portas ao lado. Desde 2002 que ali estão, servindo peixe que chega fresco todas as manhãs da lota. Incluindo a sardinha, de tamanho médio para grelhar. “Ela assim é muito gostosa. Quando são maiores, são mais secas e espinhosas”, refere. O sal dá-lhe rigidez antes de ir para as brasas e de lá sai para mesa servida numa dose de oito unidades e acompanhada por batata à murro e salada com pimentos.
Uma sardinha mais pequena – petinga – é servida como entrada, frita. “Temos sardinha fresca entre maio e outubro”, conta, sendo que é nesta altura que ela está óptima”, considera Justiniano, que na adolescência nem gostava de peixe, e que há cinco anos substituiu os pais, agora reformados, nas lides do negócio. Isto depois de uma carreira como futebolista, seguindo as pegadas do pai.
Apesar de uma casa grande, dois andares, dois grelhadores, e uma vasta equipa, não é raro à hora do almoço, começar a crescer uma fila à porta. Por isso, aconselha-se reserva.
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